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Os homens e mulheres do Presidente Trump

Por Ricardo Rabelo

O fenômeno do trumpismo e a ascensão global da extrema-direita respondem a causas sociais profundas. Não é verdade que o fator determinante tenha sido as “Fake News” espalhadas pelas redes sociais. Propaganda, desinformação e mentiras sempre existiram sob a ordem capitalista e certamente desempenham um papel político importante na luta de classes. As razões para uma derrota humilhante dos democratas estão nas políticas criminosas praticadas pela Administração Biden e tão vigorosamente defendidas pelos meios de comunicação social do sistema.

Como todos sabem foi o imperialismo que desencadeou o golpe de Estado na Ucrânia, impulsionado fortemente pelos democratas apesar de ter se dado sob Trump no 1º. Mandato. O fascismo foi a força impulsionadora do golpe e dos governos que se sucederam até chegar a Zelenski, sem que houvesse qualquer incompatibilidade do nazismo histórico ucraniano seja com os democratas seja com Trump. O objetivo sempre foi submeter a Rússia de Putin numa linha de atuação de longo prazo pois o próprio acordo de Minsk  foi articulado como uma estratégia para enganar Putin, enquanto se fortalecia militarmente a Ucrânia. A submissão das repúblicas do Donbass a um bombardeamento permanente se combinou com as repetidas provocações de Biden para que Putin invadisse a Ucrânia. 

A estratégia do imperialismo previa o colapso do regime de Putin e a mudança de regime na Rússia para favorecer o “ocidente”, o que se mostrou inviável e levou à virtual vitória militar das tropas russas.  O governo Biden não conseguiu ter uma estratégia capaz de enfrentar a nova situação pois seria impossível aceitar a derrota o que o levou a favorecer uma escalada militar rumo à 3a. guerra mundial, desde já inviável. Por outro lado, a criação de uma nova frente de guerra no Médio Oriente, armando Netanyahu até os dentes para perpetrar o genocídio em Gaza e a agressão brutal contra o Líbano, também de defrontou com uma inexistência de saída para o imperialismo. O regime sionista não conseguiu a vitória militar seja contra o Hamas, seja contra o Hezbollah e muito menos contra o Irã. Apesar da “grande vitória” na Síria, as contradições do novo governo terrorista  e entre as forças ocupantes como a Turquia, os curdos e a própria Rússia, que não abandou suas bases no país, inviabilizam a transformação do país em ponta de lança contra o Irã.

A grande maioria dos meios de comunicação social ocidentais além da costumeira propaganda sionista e da defesa do governo ucraniano agora aplaude o novo governo sírio, tampando o nariz para suas evidentes vinculações com o terrorismo árabe mais violento da Al-Qaeda e da Frente Al Nustra, sem falar do famigerado Isis. 

O caráter de classe do governo Biden se revelou amplamente, esquecendo qualquer leve ligação com a burocracia sindical norte americana como nos governos anteriores e evidenciando suas carnais ligações com o capital financeiro e da indústria bélica, ao mesmo tempo que deprime as  condições de vida da classe trabalhadora. Essa classe foi atingida pela inflação seletiva dos bens-salário em especial os da moradia, sem o governo Biden ter feito nada para cumprir a promessa de aumentar o salário base de 7,5 para 15 dólares a hora.  Ao contrário de se diferenciar dos republicanos, o governo Biden se pautou por se aproximar da agenda anti-imigração do trumpismo implementando a legislação de forma igualmente cruel na fronteira, igualando o recorde de deportações de Trump.

Além disso, a “democracia” de Biden incluiu uma dura repressão contra o sindicalismo combativo e a esquerda independente, e não hesitou em usar a brutalidade policial para desmantelar acampamentos universitários em solidariedade com a Palestina. Hoje é evidente o declínio inexorável do imperialismo estado-unidense em relação à China e à Rússia  o que  só agrava a desestabilização interna de uma potência que, até há bem pouco tempo, impunha a sua “ordem baseada em regras” ao mundo.

O resultado eleitoral tem um componente que é a grande derrota do Governo Biden. Sua concretização em uma vitória de uma força política alternativa ainda não foi possível, não só pela política da esquerda norte americana de se aliar ao partido democrata, como pelo fato de que o surgimento de partidos políticos independentes, de esquerda ou do centro, como no caso dos verdes, ainda ser muito embrionário. O sistema político eleitoral é muito funcional para o imperialismo, impedindo de todas as formas que a representação política de outras classes possa concorrer pelo poder. 

 O governo Trump e seus homens e mulheres

  Após a sua vitória, e apesar de ainda não ter tomado posse, Trump  já mostrou até onde está disposto ir  para defender os interesses da burguesia norte-americana, especialmente o setor que o bancou na eleição,  cujos interesses se voltam mais fortemente para o mercado interno do país. Uma série de nomeações reforçaram a imagem de um poder isento de controles democráticos , capaz de ser violento e autoritário sem muito escrúpulo com os seus opositores, inclusive contra quem o elegeu, os trabalhadores norte americanos e os próprios imigrantes. É evidente, também, que nas grandes questões, a política do seu governo dito populista seguirá os ditames do grande capital .

Isso fica cada vez mais claro quando examinamos a composição de seu governo. Ele incluirá dois grandes banqueiros, Scott Bessent como Secretário do Tesouro e Howard Lutnick como Secretário do Comércio, ambos CEOs de grandes fundos de investimento. Bessent foi sócio da Soros Fund Management e fundador do Key Square Group, uma empresa global de investimentos. Lutnick é o presidente e CEO do BGC Group, um grande grupo financeiro mundial, com associações inclusive com empresa chinesa.  Mas o que importa é que, com ambas as figuras em posições-chave, novos cortes de impostos serão aprovados, como já aconteceu durante o primeiro mandato de Trump, para enriquecer ainda mais Wall Street, os bancos e as grandes corporações.

Trump anunciou a criação de um Departamento de Eficiência Governamental dirigido por Elon Musk, sul-africano, proprietário das empresas SpaceX,  Tesla, Inc. X Corp. sendo cofundador das empresas Boring Company, xAI, Neuralink e OpenAI. Musk é o indivíduo mais rico do mundo, sendo que, em dezembro de 2024, a Revista Forbes estimou seu patrimônio líquido em US$ 430 bilhões. Outro multimilionário indicado é Vivek Ramaswamy, descendente de indianos, um magnata da indústria farmacêutica. Ele fundou a Roivant Sciences, uma empresa farmacêutica, em 2014. O departamento terá a tarefa de eliminar todo o tipo de regulamentação ambiental, trabalhista e financeira e de reduzir os gastos com a administração federal. Nas suas primeiras declarações, Musk prometeu que iria cortar até 2 trilhões de dólares e despedir milhares de funcionários públicos. 

Elon Musk, que está se tornando o braço direito de Trump, insiste que o governo deve funcionar como uma empresa, especificamente como as suas próprias empresas, onde se gaba de exigir que os trabalhadores trabalhem até 80 horas por semana. São os multimilionários vorazes de lucros,  sem qualquer  escrúpulo  sobre como eles são obtidos,  optando por adotar as formas mais radicais de superexploração do trabalho possíveis, atuando na defesa de  um capitalismo selvagem e sem respeito à natureza, à soberania dos países ou os direitos dos trabalhadores. Não é à toa que defendem Trump, um neofascista radical, assim como os empresários alemães que apoiaram Hitler  e difundem ideologias antioperárias,  anticomunistas e antissemitas para possibilitar  sustentar os seus negócios.

Outra grande batalha vai ser travada no Departamento de Educação, para o qual Trump nomeou Linda MacMahon, com a intenção de eliminar “planos de educação esquerdistas que propagam a ideologia de gênero e são um desperdício de recursos”. Linda foi profissional de luta livre. McMahon, junto com seu marido, Vince McMahon, fundou a empresa de entretenimento esportivo Titan Sports, Inc. (mais tarde World Wrestling Entertainment, Inc.), onde trabalhou como presidente e depois CEO de 1980 a 2009. Durante esse tempo, a empresa cresceu de um negócio regional no nordeste para uma grande corporação multinacional. No 1º. Governo Trump ela foi administradora da Small Business Administration de 2017 a 2019. 

Trump nomeou para chefiar o Departamento de Saúde dois verdadeiros lunáticos, Robert F. Kennedy Jr., defensor de desinformação antivacina e uma variedade de teorias da conspiração sobre saúde pública. Junto com ele indicou Dr. Mehmet Öz, um antigo cirurgião transformado em celebridade multimilionária da televisão, mas a promoção da pseudociência por Oz, incluindo tópicos de medicina alternativa, cura pela fé e várias crenças paranormais, rendeu-lhe críticas de várias publicações médicas e médicos renomados.

Trump colocou como objetivo principal dos dois o corte profundo nos recursos para o Medicare e o Medicaid, os dois precários serviços de saúde pública utilizados por milhões de estado-unidenses que não têm seguro de saúde. Eles são representantes dos interesses de poderosas companhias de seguros e empresas multinacionais de saúde, que serão responsáveis pela definição da estratégia do Departamento de Saúde. Para dar um exemplo de como são essas empresas basta lembrar que o presidente de uma delas foi assassinado por um autodenominado herói do povo,  tendo em vista o ódio que todos tem dessas empresas. Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare, foi assassinado em Nova York no dia 4 de dezembro de 2024. Ele foi baleado na porta do hotel Hilton Midtown por Luigi Mangione, que foi preso cinco dias depois. Mangione alegou que estava insatisfeito com as práticas da empresa em relação ao atendimento ao paciente e às reivindicações de seguro. Em abril um grupo de manifestantes, incluindo pacientes e defensores da saúde, ficaram do lado de fora da sede do UnitedHealth Group, em Minnetonka, Minnesota. O protesto foi organizado pelo People’s Action Institute, como parte de sua campanha “Care Over Cost”, que visa responsabilizar as seguradoras por negações de cuidados.

A esta lista de banqueiros, multimilionários e lunáticos juntam-se neofascistas como Pete Hegseth, nomeado Secretário da Defesa e, portanto, chefe do Pentágono e do Exército. Hegseth não possui qualquer formação militar e não é membro das Forças Armadas. Ele é um conhecido apresentador da TV Fox, um fundamentalista cristão que exibe numerosas tatuagens nazis e apela abertamente a uma guerra civil contra os movimentos sociais, os antifascistas, os sindicalistas e os esquerdistas que querem “matar os nossos fundadores, matar a nossa bandeira e matar o capitalismo”. O alvo de Trump, portanto, é o chamado “inimigo interno”, ou seja, os trabalhadores e o povo em geral.

Como Secretário de Estado, o cargo responsável para gerir os interesses do imperialismo norte americano, Trump colocou Marco Rubio, um fiel representante do lobby cubano de Miami, furiosamente sionista, anticomunista e antiaborto, e um conhecido falcão belicista que defende uma política agressiva contra a China, o Irã, Cuba. Seu maior interesse é acabar com governos progressistas ou de esquerda na América Latina, em especial Cuba, Venezuela e Nicarágua. 

A lista completa-se com muitos outros nomes, como Elise Stefanik, nomeada embaixadora dos EUA na ONU, que considera esta instituição uma organização antissemita. Mike Huckabee, escolhido para embaixador em Israel, defende que “não existe tal coisa como um palestino” e defende publicamente a anexação da Cisjordânia por Israel. Ou o de Thomas Homan, conhecido como o “Czar da fronteira”, que já serviu a anterior administração democrata como chefe da guarda fronteiriça, e que prometeu que vai “liderar a maior operação de deportação que este país já viu”. Obama já havia atribuído a este indivíduo em 2015 o “Presidential Rank Award” pelo seu trabalho em “operações de aplicação da lei e deportação”.

Uma ditadura total

Trump tem no seu 2º. Governo um amplo poder que não teve no primeiro. Ele conseguiu o controle total do Congresso e maioria na Suprema Corte, além da maioria obtida nas eleições regionais. Ele também controla as decisões do Partido Republicano.  Isso reforça enormemente as tendências ditatoriais de Trump, que não quer que qualquer instituição ou órgão condicione ou limite a sua presidência, o que agora é mais fácil do que nunca. O caráter de seu governo será, portanto, de um bonapartismo praticamente total, sendo que a oposição democrata será muito frágil para se opor ao seu poder.

A luta de classes não será interrompida

Apesar deste tom ameaçador e do governo de extrema-direita que formou, Trump enfrenta um cenário muito complicado. A nível externo, prometeu acabar com a guerra na Ucrânia. Mas não será assim tão simples. Uma retirada imediata ou, por outras palavras, forçar Zelensky a um acordo com Putin que implicaria perdas territoriais substanciais para a Ucrânia, significaria uma nova e humilhante derrota para o imperialismo norte-americano. Tal como Biden teve de lidar com o desastre no Afeganistão, Trump terá agora de gerir o revés que o espera na Ucrânia. Uma realidade que, sem dúvida, terá o seu preço.

Por outro lado, apesar da agenda pró-sionista de Trump, a continuação do genocídio em Gaza e a invasão do Líbano não tem dado frutos positivos para o imperialismo norte-americano. Pelo contrário. As relações com a Arábia Saudita e as outras monarquias do Golfo, o Egito e a Turquia continuam a deteriorar-se e a expor ainda mais a região à influência da China. O descrédito e o crescente isolamento dos EUA, que Trump pode agravar ainda mais, não augura nada de bom para os interesses externos de Washington.

Assim como em 2016, Trump promete tornar os EUA grandes de novo, seu lema de campanha, mas a sua alternativa para o conseguir, recorrendo a uma política tarifária dura contra a China e o resto do mundo, pode colher os mesmos resultados desastrosos que no seu anterior mandato. O capitalismo chinês é hoje mais forte do que em 2016, e multiplicou e diversificou os seus investimentos em todo o mundo, precisamente para contornar esta política de sanções.

Trump não pode ignorar o facto de a economia global estar mais interligada do que em qualquer outro momento da história. E romper esta situação é extremamente complicado. Por isso, o seu amigo Elon Musk, que gera 30% da produção da Tesla na China, tem-se manifestado repetidamente contra a imposição de novas tarifas.

Num contexto extraordinariamente difícil para o imperialismo norte-americano, a principal aposta do Trumpismo é pôr a sua casa em ordem, manter o “inimigo interno” à distância e atacar duramente a classe trabalhadora estado-unidense. Mas mesmo internamente as coisas não vão ser tão fáceis.

A promessa de Trump de deportação em massa de até onze milhões de imigrantes ilegais já foi alvo de críticas por parte de importantes setores empresariais, ligados tanto a democratas como a republicanos, que apontam que tal plano seria um duro golpe para uma economia em que 20% da força de trabalho é composta por imigrantes. Setores como a construção, a agricultura e a hotelaria entrariam em colapso, daí a insistência em chegar a um acordo entre os dois maiores partidos com políticas “razoavelmente” repressivas.

O trumpismo tem como alvo o movimento de solidariedade com a Palestina, a esquerda militante e antifascista, os movimentos sociais e, especialmente, o sindicalismo combativo que, nos últimos anos, desafiou grandes magnatas como Jeff Bezos na Amazon, as três grandes empresas automobilísticas e muitos dos bilionários que simpatizam totalmente com Trump para lhes garantir um punho de ferro contra a classe trabalhadora.

O trumpismo, como um tipo moderno de fascismo, usa a demagogia e o populismo, e mesmo a mais dura repressão, para atacar a classe trabalhadora e a esquerda, espalhando um anticomunismo histérico contra tudo o que cheire a revolução.

A luta de classes vai entrar numa fase muito mais dura, onde as tendências autoritárias do governo se acentuam cada vez mais. A reeleição de Trump aprofunda essas tendências ao renegar a esquerda reformista que apelou e continua a apelar ao Estado capitalista, à democracia burguesa, para combater a extrema-direita e o fascismo. O Estado capitalista não só não reprime a reação, como a protege e promove, como ficou amplamente demonstrado no caso de Trump. Recentemente os principais governos imperialistas votaram contra ou se abstiveram em relação a uma moção patrocinada pela Rússia que visava proibir a glorificação do nazismo. O que mostra que a defesa da democracia tem limites quando os lucros estão sendo prejudicados. Votaram contra a resolução antinazismo os EUA, Alemanha, Itália, Japão, Ucrânia e mais 44 países. 14 se abstiveram.

Só há uma forma de enfrentar Trump e a extrema-direita: construir uma poderosa organização da classe trabalhadora e da juventude com um programa revolucionário e socialista, impulsionando a mobilização em massa dos oprimidos e a ação direta, incluindo a autodefesa contra os bandos fascistas e a brutalidade policial.

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