Por Ricardo Rabelo
O genocídio sionista desencadeado em Gaza continua a ser um dos focos da luta de classes mundial. Um massacre que, desde outubro de 2023, custou a vida a mais de 70 000 pessoas sob pesado bombardeio de caças F-35 dos EUA e dezenas de milhares devido ao frio, à fome ou à falta de medicamentos, na sua maioria crianças e mulheres, deixou centenas de milhares de feridos e deslocou à força 1,9 milhões de palestinianos. Tudo tem sido mostrado ao vivo e em cores em termos mundiais, apesar do grande esforço dos sionistas para punir quem denuncia esta situação e uma grande censura a todas instituições como a imprensa, as Universidades e as representações da sociedade civil nos países imperialistas e no Brasil.
Um ataque violento que transformou casas em ruínas e destruiu várias cidades, hospitais, escolas e liquidou com décadas de uma cultura e uma civilização baseada no convívio pacífico e produtivo com todas as etnias da região, naturais ou implantadas pela força pelos sionistas. Estes, pelo contrário, erigiram ali um Estado judeu sobre as terras palestinas cuja única motivação é o ódio e a destruição violenta dos inimigos, praticamente toda a população árabe e persa, além dos palestinos. Foram, até agora, mais de cem mil toneladas de bombas lançadas pelo exército israelita, quatro vezes mais do que os bombardeamentos nazistas sobre Londres durante a Segunda Guerra Mundial.
Carruagens de Gideão
O número de mortos aumentou drasticamente desde março, quando Israel violou o cessar-fogo, fruto de um acordo mediado pelos EUA, e retomou os ataques. O exército israelense forçou centenas de milhares de civis a fugir de suas casas no norte e no sul de Gaza.
A situação piorou enormemente quando Israel impôs um bloqueio total a Gaza no início de março. Desde então, o governo de Tel Aviv bloqueou a entrada de alimentos, água, combustível e suprimentos médicos. Atualmente há a possibilidade de morte por fome de 14.000 bebês. Milhares de pessoas já morreram de fome, principalmente crianças.
A crise humanitária está piorando a cada dia. Caminhões transportando ajuda são liberados, por causa da pressão internacional, mas a conta gotas, cerca de 90 por dia quando são necessários pelo menos 500 por dia. Eles continuam parados na fronteira. Os EUA criou uma empresa para fazer a distribuição da ajuda humanitária, mas há rejeição total dos palestinos e a reivindicação que isso seja feito pela agência para os palestinos da ONU, que já teve 300 funcionários assassinados por Israel.
O primeiro-ministro de Israel , Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant são procurados pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra. Entretanto, a campanha militar de Israel continua, apoiada por remessas de armas norte-americanas e alemãs.
O exército israelense está implementando um plano para assumir o controle total da Faixa de Gaza, deslocar toda a população para uma pequena área de terra no Sul e fornecer aos palestinos apenas comida suficiente para que não morram de fome, como parte de uma operação militar expandida chamada de “Carruagens de Gideão”. O gabinete de segurança de Israel aprovou o plano por unanimidade no dia 4 de maio e as forças armadas de Israel anunciaram que estão fortalecendo sua capacidade de operar no território palestino sitiado, mobilizando dezenas de milhares de reservistas.
Nethanyahu passa por uma crise no Governo que envolve a própria situação jurídica do primeiro-ministro. Ele nomeou o general David Zini para liderar o Shin Bet, a agência de segurança interna do país. A decisão ocorreu um dia após a Suprema Corte de Justiça emitir um parecer afirmando que a demissão do atual chefe do órgão, Ronen Bar, por Netanyahu foi feita de maneira “inadequada e ilegal”, indicando que o primeiro-ministro tinha um “conflito de interesses”. Consta que o órgão sob a direção de Bar estava investigando assessores do próprio Netanyahu por irregularidades em suas relações com o Catar.
A “Limpeza” Étnica
Apesar da crise, o governo de Israel avança na sua determinação em implementar a estratégia de extermínio de todos os palestinos, a chamada “limpeza étnica”. Isto passa por formalizar a sua ocupação, estabelecer um governo militar, deslocar a população para campos de concentração, e finalmente fazer a limpeza étnica, expulsando dois milhões de palestinos das suas terras.
É a primeira vez que Netanyahu declara publicamente que a sua prioridade é anexar Gaza. O Ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, afirmou que Gaza será totalmente destruída e que a população será massivamente deslocada para países terceiros. O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, tem defendido publicamente o fim de todo o fornecimento de energia elétrica e o bombardeamento daqueles que pretendem fornecer alimentos e produtos essenciais à vida humana.
O pior massacre do século XXI está sendo aprofundado e a duvidosa reação de alguns países da Europa e da América é ainda uma resposta débil, que não é capaz de confrontar o governo nazista de Israel. Há informações de que Trump está negociando com vários países a transferência dos palestinos para lá, inclusive a Líbia e os governos estão em princípio aceitando, pois o presidente fascista está oferecendo milhões de dólares em troca.
O imperialismo trumpista apoia ativamente o genocídio
A destruição de Gaza tem sido justificada pela possibilidade de ser finamente concretizado o projeto do Grande Israel teocrático e totalitário que implica também na invasão do sul do Líbano e de ataques militares contra o Irã. Ao contrário do que parece, este projeto é na verdade também apoiado pelo imperialismo trumpista na sua luta para manter a supremacia mundial frente à China e à Rússia. O golpe que patrocinaram na Síria mostra que não há escrúpulos “humanistas” disponíveis, pois, a determinação israelita e estado-unidense é de manter e aprofundar o controle do chamado Oriente Médio.
A ação de Trump, no entanto, é errática, e feita de avanços e recuos. Trump, depois de bombardear fortemente o Iêmen, voltou atrás e cancelou os bombardeios em troca da não agressão dos Houtis à navios norte-americanos civis. Esse egoísmo norte-americano permeia toda a ação de Trump neste mandato. Recentemente viajou ao Oriente Médio e fez polpudos acordos com vários países com destaque para a Arábia Saudita. Significativamente não visitou Israel, o que deixou Nethanyahu furioso porque queria o aval norte-americano para um ataque ao Irã.
Washington assinou uma série de acordos com Riad em vários setores, incluindo o maior acordo de defesa de todos os tempos entre os dois países, avaliado em quase US $ 142 bilhões. Em suma, uma série de atitudes sugere uma certo afastamento do governo Trump em relação à Israel. De um lado, há esta prioridade ao nacionalismo norte-americano que nada mais é do que a afirmação do seu imperialismo “acima de tudo”. Mas é muito grande a vinculação política, ideológica e militar dos EUA com Israel desde a fundação do país em 1948.Nada indica que Trump negue o projeto de limpeza étnica, ao qual tentou dar uma roupagem sedutora deque será criado um Resort sofisticado na Gaza destruída totalmente. O mais provável é que Trump queira fingir um distanciamento dos crimes de Israel, embora os apoie e até articule de forma secreta. O mesmo pode ser dito da atitude do Reino Unido, do Canadá e da França, que resolveram condenar a situação em Gaza.
As negociações com o Irã sobre um novo acordo nuclear estão em andamento desde que Trump assumiu o cargo. Em 15 de maio, foi amplamente divulgado que os dois lados estavam finalmente prestes a chegar a um acordo. Mais uma vez, Israel foi aparentemente totalmente excluído dessas negociações, e qualquer acordo que resulte provavelmente não levará em conta a postura belicosa de Tel Aviv em relação ao Irã. Em um discurso em Riad em 13 de maio, Trump pareceu retroceder em décadas de política americana no Oriente Médio.
No entanto, num contexto em que as políticas econômicas que implementou, começando pelas tarifas, não estão colhendo resultados satisfatórios no seu objetivo de enfrentar e frear o desenvolvimento da China como potência hegemónica mundial, a Casa Branca, abalada pelo fracasso estrondoso na guerra da Ucrânia, parece indicar que apoia a limpeza étnica, mas não quer aparecer como cúmplice deste crime. Passou por cima do governo israelense ao negociar diretamente com o Hamas a soltura de um prisioneiro de guerra norte-americano e foi bem sucedido nesta ação.
Netanyahu aprovou as ideias de Trump apresentadas em fevereiro passado, quando defendeu abertamente a conclusão da limpeza étnica, a deportação de palestinos e a transformação de Gaza num resort de luxo. Quase dois meses de bloqueio imposto a sangue e fogo colocaram Gaza, segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha, “à beira do colapso total”. 91% da população sofre de “insegurança alimentar”, ou seja, a fome está a tirar a vida a milhares e milhares de pessoas. Os rostos de crianças palestinas desnutridas mostram a desumanidade da entidade sionista.
Ninguém reage
Segundo a ONU, a população palestina atualmente só pode se deslocar por um terço do território. Os campos de refugiados são bombardeados constantemente pela aviação sionista, enquanto Netanyahu e os seus cúmplices aprofundam a sua agressão colonialista contra a Cisjordânia.
Há alguns meses, os ladrões de terras apelidados de “colonos” tinham atacado violentamente a aldeia de Khallet al-Daba, na zona de Masafer Yatta e incendiado várias casas. Em 5 de maio o governo israelita demoliu a maior parte desta aldeia, tendo sido esta a maior demolição realizada na região.
Este massacre contra o povo palestino e a impunidade de que goza o sionismo também é da responsabilidade dos governos do mundo árabe, esses regimes corruptos e servis a Washington e Bruxelas, que desprezam as fortes mobilizações contra o genocídio que têm ocorrido nos seus países. Por outro lado, Rússia e China não adotam qualquer atitude para pressionar Israel a abandonar seus planos, mantendo as relações comerciais e diplomáticas com o governo genocida.
A China é o segundo parceiro comercial de Israel, e tal como a Rússia, não adotou qualquer boicote aos produtos israelitas, nenhuma ruptura de relações diplomáticas, nenhum apelo às populações árabes para se levantar contra os seus governos. O socialismo de caraterísticas chinesas abandonou completamente a ideia do internacionalismo proletário e, assim como a Rússia, adota atitudes meramente formais e diplomáticas para rejeitar o genocídio em Gaza.
Nestes quase dois anos de genocídio sionista, tornou-se claro quem são os aliados do povo palestiniano: os oprimidos, a juventude e a classe trabalhadora que inundou as ruas do mundo aos milhões nas grandes capitais europeias, renovando o repúdio à carnificina do Estado judeu contra os palestinos.
Uma intervenção militar para o fim do genocídio?
Uma campanha global pedindo intervenção militar para acabar com o genocídio em Gaza está ganhando força. A iniciativa recebeu o apoio de centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo. As mídias sociais estão inundadas com mensagens pedindo aos governos que tomem medidas diretas. Os apoiadores pedem o fim do genocídio de Israel e que as potências mundiais intervenham para evitar mais perdas de vidas.
O apelo à intervenção militar em Gaza foi iniciado pela campanha global Proteja a Palestina e exorta os governos a tomarem medidas militares urgentes para pôr fim ao genocídio de palestinos por Israel. Em seu comunicado, os organizadores da campanha afirmaram: “Tentamos protestos, boicotes e responsabilização legal. Nada disso impediu os assassinatos. A única maneira de impedir o genocídio em Gaza é a intervenção militar direta.” A campanha incentiva as pessoas a mostrarem sua solidariedade escrevendo uma mensagem de apoio à intervenção militar, tirando uma foto com a mensagem e publicando-a online, além de marcar seus representantes políticos com o slogan #ProtectPalestine .
Os organizadores enfatizam que essa demanda se baseia no direito internacional e que o mundo não deve ter medo de se manifestar. “Esse genocídio pode ser interrompido se superarmos nossos próprios medos e nos unirmos para exigir uma intervenção militar urgente”, acrescentam os defensores.
Os apelos por intervenção militar refletem a crescente exasperação com o fracasso da diplomacia. Os manifestantes dizem que anos de resoluções da ONU e decisões judiciais não fizeram nada para impedir os assassinatos. A reivindicação seria justa se houvesse alguma potência interessada nessa possível intervenção. Isso, como já mostramos, não existe. Uma intervenção militar contra Israel teria que levar em conta que a entidade sionista é perversa e cruel a ponto de utilizar as armas nucleares que possuem contra a agressão externa.
O mais grave, porém, é que nenhum país tem interesse próprio numa ação deste tipo, todos estão, de uma forma ou de outra, vinculados ao sistema mundial que mantém Israel na sua ação genocida, mesmo que tenham alguma contradição com relação ao imperialismo.Com exceção honrosa do Iêmen, cujas ações contra Israel e a qualquer transporte que o favoreça tem causado reais danos aos sionistas.
As manifestações grandiosas e numerosas ações de protesto têm-se espalhado dos países árabes para os EUA, Europa e outros continentes, demonstrando a força e disposição que existe para erguer um grande movimento internacional de solidariedade com o povo palestino e finalmente impedir a continuidade do genocídio levado a cabo por Netanyahu e Trump.
A tarefa dos ativistas, sindicalistas e militantes combativos, dos trabalhadores e jovens que não aceitam a carnificina que o imperialismo ocidental está promovendo, é utilizar de todas as táticas existentes para produzir mais uma derrota do imperialismo e efetivamente extinguir o sionismo como ideologia e prática. Temos que catalisar a organização, a mobilização e as ações de massa para romper esta trama imperialista que busca impor o silencio e a resignação frente à toda sorte de violência que os sionistas são capazes de fazer. O sionismo é a pior forma de nazismo que existiu até hoje. Eles cultivam a violência de forma sádica, gozam com as formas mais vis de estupro dos palestinos presos ou não e festejam os estupradores como heróis nacionais. Matam crianças retirando-as do ventre das mães, destroem escolas e fazem sátira das crianças que não podem frequentá-las, fazem selfies na Internet se gabando da crueldade e ignomínia que são capazes de produzir. Após o fim do Estado racista e supremacista judeu será necessário um longo processo de dessionização, mais completo e profundo do que foi feito com os nazistas, pois estes estão de volta em todos os países e disputando “democraticamente” o poder. Se isso não for feito, o genocídio será uma prática corrente do imperialismo em todos os países.
No caso do Brasil, nos tornamos um país cumplice dos crimes de Israel, porque o Senado, com ajuda dos senadores petistas, votou a criação de um ” dia da amizade Brasil-Israel”. Isso sem falar da atitude do governo Lula, que continua enviando petróleo da Petrobrás para ajudar o exército israelense a bombardear os palestinos. Além disso, o governo continua a manter relações diplomáticas com um governo que considera o Presidente Lula persona não grata em Israel. É fundamental que criemos no Brasil um movimento de solidariedade à Palestina que faça mobilizações de massa e consiga vitórias políticas contra Israel. Devemos ter como objetivo ter manifestações com o vulto das internacionais , na Europa e mesmo nos EUA, para exigir o fim do genocídio em Gaza, Temos que impedir , por todas as formas, a concretização da limpeza étnica em curso na Palestina, forçando o governo Lula a promover a ruptura imediata das relações com Israel e o embargo de armas e bens.
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