Haverá eventos nas principais cidades do país
Pessoas com deficiência voltam a marchar para a Quinta dos Olivos contra a austeridade de Milei
O corte nas pensões, os problemas dos prestadores de serviços de saúde e a atitude discriminatória do presidente motivaram o apelo das organizações do coletivo para se mobilizarem pela terceira vez até agora este ano.
Novembro 19, 2024 – 20:46
Pela terceira vez até agora este ano, organizações que reúnem pessoas com deficiência se mobilizarão para a vila presidencial em Olivos. A ideia é chamar novamente a atenção de Javier Milei para que ele “reconsidere o dano irreparável que está causando ao coletivo, tanto econômica quanto simbolicamente”, disse Pablo Molero, representante do Fórum Permanente pelos Direitos das Pessoas com Deficiência, ao Página/12. A marcha também será replicada em várias partes do país, como Rosário, Tucumán, Córdoba e Mendoza.
Esse “dano irreparável”, denunciam as organizações, é consequência do corte de pelo menos 200.000 pensões que o governo planeja fazer no futuro imediato de acordo com as metas do orçamento de 2025. Mas também cobre o ajuste nos valores dos serviços de saúde, reabilitação e transporte, cujos provedores “mal cobrem metade de seus custos operacionais”, disse Molero.
Além disso, eles pedirão ao presidente que pare de usar a deficiência como um insulto. Mais de uma vez, Milei usou termos como “magnata” ou “deficiente” para se referir de forma depreciativa a seus inimigos políticos. “A verdade é que não é um comportamento apropriado para um presidente da nação. Mas à margem, vivemos isso com angústia. Isso reafirma a discriminação”, acrescentou Molero. Mais de uma vez, as organizações levaram essa proposta ao diretor da Agência Nacional para a Deficiência (ANDIS), Diego Spagnuolo – ex-advogado pessoal de Milei–, mas não tiveram o eco esperado.
As reivindicações
A marcha está marcada para esta quarta-feira a partir das 10h em frente ao portão verde da residência presidencial. Eles chegarão lá com uma petição que inclui uma extensa lista de demandas:
A primeira e mais urgente é que o governo reverta sua decisão de cortar pensões. No orçamento de 2025, conforme antecipado pela Página/12, espera-se a queda de quase 200 mil. Spagnuolo anunciou recentemente que o ajuste poderia ser maior, já que, segundo ele, há um total de cerca de 600.000 “em revisão”. Essa revisão é realmente uma auditoria, e o governo está convocando os beneficiários a comparecerem pessoalmente perante o ANDIS para revalidar seus documentos. A pensão hoje tem um valor muito baixo (equivalente a 70% de uma aposentadoria mínima, cerca de 164 mil pesos, mais o bônus de 70 mil pesos concedido pela ANSES), mas para muitas pessoas com deficiência também implica a possibilidade de acesso à cobertura de saúde.
Também exigirão que seja revertido o ajuste ao setor em geral, que não se limita apenas às aposentadorias, mas também inclui políticas públicas voltadas para o trabalho e a inclusão social. De acordo com um relatório do Centro de Estudos de Economia Política (CEPA) a pedido deste jornal, o orçamento da ANDIS sofrerá uma contração de 31,7% no próximo ano em relação a 2024. Se, como tudo indica, o projeto de orçamento não passar pelo filtro do Congresso, o plano da motosserra teria total discricionariedade do Governo e o ajuste poderia ser ainda maior.
— Prestadores de serviços educacionais, de transporte e de saúde também estão em crise. No meio, cruzam-se os interesses dos pré-pagos e das obras sociais, que querem livrar-se de um problema. Mas até agora este ano, denuncia Molero, os reajustes nos valores (definidos pelo Governo por meio da ANDIS) ficaram bem abaixo da inflação. “As tarifas atuais não estão alinhadas com a inflação e os aumentos salariais estabelecidos pelos sindicatos. Isso leva a uma grande crise no setor de benefícios. Com as tarifas atuais, apenas entre 50% e 61% dos custos operacionais são cobertos, dependendo do serviço”, diz o comunicado do Fórum representado por Molero.
— O Decreto 843/24, que endurece os requisitos de acesso às pensões, também é visto como um retrocesso, pois estabelece que os beneficiários não podem mais ter um emprego em branco ou um carro em seu nome. Isso restringe a concessão de aposentadorias no futuro, mas também é um retrocesso na concepção do modelo de deficiência, pois ele se concentra apenas na incapacidade para o trabalho.
A decisão do governo de desregulamentar o serviço de transporte também se tornou um problema. As empresas aproveitaram essa nova regulamentação para deixar de conceder passagens gratuitas (pessoas com deficiência têm direito por lei a duas por ônibus). O CNRT, após detectar “violações repetidas” por parte de empresas do setor, entrou com uma medida cautelar e ameaçou sanções.
–Finalmente, eles começarão a divulgar um projeto de lei que busca estabelecer um Subsídio Universal por Invalidez e que é promovido pelas organizações em conjunto com o deputado Daniel Arroyo. O projeto será apresentado na Câmara dos Deputados no dia 3 de dezembro na Câmara dos Deputados.
“Entre tantos outros argumentos que nos chamam a continuar lutando em defesa dos direitos das pessoas com deficiência”, conclui o comunicado divulgado pelas organizações.