Infoecosys: contra o neoliberalismo, o fascismo e imperialismo. A favor dos trabalhadores: Socialismo ou Barbárie!

Lutas Anti – Imperialistas

Confederação dos Estados do Sahel: uma ferramenta ou um futuro africano para a descolonização?

Por Beto Cremonte

No coração do continente africano, Burkina Faso, Mali e Níger passaram por uma mudança drástica em sua história recente, embarcando em um processo de profunda descolonização e reconfiguração geopolítica.

Como processo de descolonização, a Confederação dos Estados do Sahel oferece, através de medidas concretas, uma solução definitiva? da dependência colonial. A defesa dos recursos naturais, as alianças de segurança e a luta conjunta contra o terrorismo parecem ser o caminho que Mali, Burkina Faso e Níger querem mostrar ao resto do continente. A unidade fraterna que esses países começaram a demonstrar, após seus respectivos golpes, remonta a outra época, quando a região permanecia unificada. A chegada dos colonizadores, neste caso a França Imperial, fragmentou a área para seus próprios propósitos. A pilhagem das riquezas e dos recursos naturais que enchiam os cofres de Paris e enriqueciam empresas privadas ligadas à exploração mineira parece ter chegado ao fim nesta parte do mundo onde a AES ganhou força, atraindo inclusive outros países da região a aderir a esta cruzada descolonizadora.

No coração do continente africano, Burkina Faso, Mali e Níger passaram por uma mudança drástica em sua história recente, embarcando em um processo de profunda descolonização e reconfiguração geopolítica. A criação da Confederação dos Estados do Sahel não representa apenas um esforço coletivo para consolidar sua soberania, mas também um desafio direto ao padrão de interferência externa que caracterizou sua história pós-colonial. A expulsão de tropas estrangeiras, a ruptura com instituições regionais alinhadas aos interesses ocidentais e a implementação de políticas econômicas independentes marcaram um ponto de virada. Este artigo analisa em profundidade as medidas tomadas, seu contexto e seu impacto no futuro da região.

Do ponto de vista político, a saída desses países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) marcou uma ruptura com uma estrutura que havia imposto sanções após os golpes que levaram governos militares ao poder em cada um deles. Durante décadas, a CEDEAO atuou como um ator fundamental na supervisão da ordem política regional, mas também como um mecanismo de influência para a França e outras potências estrangeiras. A decisão desses países de deixar a organização reflete uma determinação de romper com estruturas que, segundo seus líderes, perpetuavam a dependência econômica e política. No entanto, essa ruptura teve custos: o comércio intrarregional caiu 12% no primeiro ano após a retirada, embora analistas projetem que novos acordos bilaterais e um mercado interno fortalecido possam compensar essa perda até 2025.

Na esfera da segurança, a expulsão das tropas francesas e o rompimento dos acordos militares com a França marcaram uma virada na estratégia defensiva da região. A Operação Barkhane, ativa desde 2013, foi justificada como um esforço para conter a insurgência jihadista no Sahel, mas a percepção pública de sua eficácia se deteriorou ao longo do tempo. Pesquisas realizadas nos últimos anos indicaram que mais de 60% da população acreditava que a presença militar francesa não havia melhorado a segurança e, em alguns casos, até mesmo a havia piorado. A retirada dessas forças não ocorreu sem desafios: a criminalidade em algumas áreas aumentou temporariamente em 20%, embora a chegada de conselheiros militares russos e o estabelecimento de uma força conjunta entre Burkina Faso, Mali e Níger tenham ajudado a reduzir o número de ataques em 30% em certas áreas.

Este novo bloco também optou por reformas econômicas visando maior autonomia. Durante décadas, todos os três países dependeram do franco CFA, uma moeda atrelada ao euro e controlada pelo Tesouro francês, o que limitou sua capacidade de implementar políticas monetárias soberanas. A proposta de uma moeda separada dentro da Confederação dos Estados do Sahel busca corrigir essa situação e, segundo estimativas do FMI, pode reduzir a inflação em 8%. Ao mesmo tempo, o fortalecimento das instituições financeiras regionais facilitou o acesso ao crédito para pequenos produtores agrícolas, com um aumento de 40% nos pedidos de financiamento para o desenvolvimento rural.

Um dos aspectos mais inovadores desse processo foi a reforma do sistema judiciário, que incorporou práticas tradicionais para tornar o acesso à justiça mais eficiente e adequado às realidades locais. Historicamente, o sistema jurídico desses países era baseado em códigos de origem colonial que nem sempre se adaptavam às necessidades da população. A criação de mais de 200 tribunais em áreas rurais contribuiu para aumentar a confiança no sistema, com pesquisas mostrando um aumento de 35% nas percepções positivas da justiça local.

Na área dos direitos humanos, os governos do Sahel optaram por uma abordagem dupla: por um lado, denunciar as violações cometidas na luta contra o terrorismo perante fóruns internacionais e, por outro, iniciar processos judiciais internos contra os responsáveis ​​pelos abusos, tanto por grupos armados como por forças estatais. Essa estratégia levou a um aumento de 50% na assistência humanitária internacional, embora organizações de direitos humanos continuem apontando desafios na implementação de mecanismos de responsabilização.

Além da segurança e da economia, a Confederação do Sahel enfatiza a promoção da educação e da cultura indígena. Durante décadas, os sistemas educacionais seguiram modelos impostos desde o período colonial, marginalizando as línguas e tradições locais. No ano passado, mais de 50 programas educacionais foram reformados para incluir o uso de línguas indígenas, com impacto direto na matrícula escolar, que aumentou 20% nas áreas rurais. Ao mesmo tempo, a produção cultural e artística recebeu um impulso por meio de programas de apoio estatal, fomentando a identidade nacional e o sentimento de pertencimento entre os cidadãos.

Novas alianças internacionais têm sido outro eixo central da estratégia do Sahel. Historicamente alinhados com a França e outros países ocidentais, esses governos diversificaram suas relações diplomáticas e econômicas, estabelecendo acordos com a Rússia e a China, entre outros atores. O investimento estrangeiro em infraestrutura cresceu 30% no último ano, particularmente na construção de estradas e redes elétricas, melhorando o acesso a serviços básicos em áreas rurais.

O impacto dessas mudanças não se limitou a Burkina Faso, Mali e Níger. Países vizinhos como Senegal, Chade, Benim e Gana começaram a avaliar as implicações desse novo bloco. No Chade, o governo manifestou interesse em estabelecer acordos de cooperação com a Confederação, enquanto no Benim e em Gana surgiram debates internos sobre a possibilidade de se retirar da CEDEAO e ingressar em uma estrutura com maior autonomia econômica e política. O Senegal, tradicionalmente alinhado à França, enfrenta um dilema estratégico, pois setores políticos e sociais começaram a exigir maior independência, em linha com o modelo do Sahel. A possibilidade de expansão da Confederação de Estados do Sahel não só consolidaria um bloco com maior poder de negociação, mas também poderia redefinir o equilíbrio de poder na África Ocidental.

O futuro do Sahel está numa encruzilhada. Embora a ruptura com as estruturas neocoloniais tenha sido saudada como um passo em direção à verdadeira soberania, os desafios permanecem. O sucesso da Confederação dos Estados do Sahel dependerá de sua capacidade de consolidar suas estruturas políticas, garantir a estabilidade interna e manter relações internacionais equilibradas que lhe permitam continuar avançando em seu desenvolvimento econômico e social. A história da África foi marcada por tentativas de independência que foram sufocadas por interferências externas e conflitos internos. No entanto, o que está acontecendo hoje no Sahel sugere que uma nova narrativa está tomando forma, na qual esses países estão buscando, pela primeira vez em muito tempo, escrever seu próprio destino.

*Beto Cremonte , professor, professor de Comunicação Social e Jornalismo, graduado pela : Universidad Nacional de La Plata- Buenos Aires (UNLP), Bacharel em Comunicação Social pela UNLP, aluno avançado do Curso Técnico Superior Universitário de Comunicação Pública e Política. FPyCS UNLP.