Infoecosys: contra o neoliberalismo, o fascismo e imperialismo. A favor dos trabalhadores: um novo Brasil é possível !

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Internacional

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Artigo mais recente de Ricardo Rabelo:

As Eleições na Venezuela:  o golpe em marcha

PUBLICADO EM 26/07/2024

Por Ricardo Rabelo

                Nas vésperas  das eleições na Venezuela,  o governo Maduro  tem o apoio de milhões de venezuelanos , que saem às ruas com entusiasmo e fervor revolucionário. São multidões imensas que se espalham por praças e avenidas, mostrando claramente qual é a vontade popular na Venezuela: reeleger Maduro e avançar a revolução bolivariana.  No entanto, para quem acessa as notícias sobre a Venezuela através a imprensa capitalista, o candidato da oposição juntamente com a  violenta e totalmente vendida ao imperialismo Maria Corina Machado também vai às ruas , com uma campanha estilo Trump ou Bolsonaro: se eu não ganhar é fraude. As pesquisas divulgadas pela oposição golpista são descaradamente manipuladas, atribuindo mais de 60% dos votos para o candidato “fake”  e cerca de 26% para Maduro.

Manifestação pro maduro em Caracas Julho 2024

Além disso o imperialismo através de seus órgãos de imprensa espalham uma inundação de notícias falsas, fazendo todos no “mundo civilizado” acreditarem na vitória da direita. E não podia faltar a censura pura e simples para impedir a divulgação de notícias pelos meios progressistas, através das redes sociais.

‘La Iguana TV’, uma das plataformas de notícias digitais mais proeminentes da Venezuela teve seu canal bloqueado pelo Youtube .  A  censura imperialista  ocorreu logo após a transmissão de um programa denunciando o plano de governo neoliberal que a oposição implementará  caso vença as eleições  no dia 28 de julho.

La Iguana TV , denunciou as implicações deste bloqueio e seu impacto mais amplo na sociedade venezuelana.  A censura com roupagens “neutras” também ocorreu durante as eleições no México. O YouTube bloqueou os canais do partido  Morena, do próprio Manuel López Obrador e até da Telesur  alegando violações de direitos autorais por parte de canais  atingidos. Esta tática parece ser uma estratégia para privar os trabalhadores do seu direito à liberdade de expressão em momentos críticos como as eleições.

A escala de influência da La Iguana TV – que tem mais de 270 mil assinantes em seu canal no YouTube, o que o torna o maior canal político da Venezuela – mostra a gravidade do bloqueio. São quase 300 mil horas de visualização por mês, o que se traduz em entre três e cinco milhões de visualizações anualmente. Bloquear este canal 15 dias antes das eleições é um golpe significativo para os eleitores venezuelanos, privando-os de informações cruciais. A TV criou um canal alternativo que pode ser visto aqui:

https://www.youtube.com/@LaIguanaTV-Television2.0

 O caminho para a implantação de um regime ditatorial global

A censura faz parte de um esquema mais amplo de manipulação da narrativa eleitoral. O objetivo é criar a impressão de que a eleição é apenas entre dois candidatos, estando um deles, Nicolás Maduro, fraco, sem ação. Este apagão digital é um sintoma de uma tendência ditatorial global já que o mesmo procedimento é adotado pelo Twitter e o Facebook.

A direita e o imperialismo estão criando um ambiente para a “tempestade perfeita”. Esta estratégia de manipulação em massa da informação, com uma agressividade crescente da candidata fake Maria Corina e impedimento de manifestação do próprio governo do país visa criar uma ambiente de caos que possa favorecer um golpe como o de  2002 contra Hugo Chávez.

Chávez retornando ao Palácio Presidencial após tentativa de golpe, em abril de 2002

Desta vez, porém, o apagão é digital. O plano é apagar os meios digitais progressistas e alternativos, ao mesmo tempo que o mundo ocidental contribui para tornar a mentira da direita sobre sua possível vitória em realidade consumada, sendo que a derrota será imediatamente transformada em fraude “evidente”.

Os eixos do plano de oposição

O primeiro eixo é a preparação de uma invasão da Venezuela  de paramilitares colombianos para causar desestabilização no país, fato que já está sob investigação da Procuradoria-Geral da República. Outros mercenários estão sendo arregimentados para a invasão. O segundo eixo é gerado com  informações sobre a iminente vitória da oposição, com as pesquisas manipuladas e a sistemática cobertura da imprensa capitalista das “virtudes” da candidata da oposição , buscando esconder totalmente o verdadeiro objetivo da direita que é privatizar tudo, a começar pelo petróleo e destruir as conquistas e os programas sociais e econômicos do governo Maduro. O terceiro eixo é tentar popularizar ao máximo a idéia de que o governo vai fraudar as eleições “mais uma vez”.

Com isso está se tentando criar um ambiente perfeito para as “guarimbas”, que foram piquetes de grupos violentos da oposição criados em 2014 e em outras oportunidades, que adotavam ações de espancamento, assassinatos e até queimaram vivos vários chavistas. Se tiverem chance, os extremistas de direita vão retomar estas ações, com assassinatos nas ruas, bloqueios de ruas, incêndios de bibliotecas, pré-escolas, universidades e assédios violentos  aos cidadãos. Foi a isso que Maduro se referiu quando denunciou o “banho de sangue” que a oposição vai promover por serem derrotados nas eleições. Para isso é fundamental a atuação da imprensa capitalista e mesmo a comunicação nas redes sociais.

Corina Machado, a candidata não registrada e Edmundo Gonzalez o candidato real

O jornal  espanhol “El País”  acaba de entrevistar um indivíduo que atuou em todas tentativas de golpe na Venezuela. Ele se aproveitou de uma situação favorável e fugiu da prisão na Venezuela,  viajando para a Espanha em seguida. Seu nome é Leopoldo López. Ao entrevistá-lo, o jornal deu status de líder da oposição ao bandido fascista.

A CNN em espanhol participou como ator ativo em vários golpes de estado na Bolívia, na Venezuela, em Honduras. O golpe que ocorreu na Bolívia foi barrado por vários fatores, mas foi fundamental a cobertura ao vivo da Telesur que, juntamente  com a Sputnik, RT, Hispan TV e La Iguana  mostraram a todos a fraqueza dos golpistas e mesmo seu  papel ridículo o que facilitou que o povo os  expulsasse das ruas. Uma manchete da CNN sobre os favoritos para vencer a disputa presidencial na Venezuela mostra o papel que a rede pretende ter nas eleições venezuelanas. A nota é tendenciosa e afirma, com base em pesquisas, que o candidato da Plataforma Democrática Unitária (PUD) será o vencedor indiscutível no próximo domingo.

Jornal Nacional da TV Globo faz coro à campanha internacional contra Maduro

Outro lance deste golpe em andamento é que os meios de comunicação internacionais vão começar a dar as suas projeções com base nas sondagens de boca de urna  a partir do meio-dia de domingo, 28 de julho, quando o processo de votação vai estar em pleno desenvolvimento.

Há  a possibilidade de o evento eleitoral ser um dos mais monitorados do mundo e as grandes redes ligadas aos desígnios imperialistas  fazerem uma cobertura especial, assumindo falaciosamente – pela origem e pelo contexto – que as figuras de María Corina Machado e Edmundo González representam um fenómeno político apenas comparável ao surgimento do Comandante Hugo Chávez em 1998.

Bloomberg, Reuters, entre outros meios de comunicação europeus e americanos, seriam os encarregados de projetar a suposta epopeia desse setor da oposição, já que teve que “enfrentar” o chavismo num cenário desfavorável. Segundo Rodríguez, procuram reeditar um processo semelhante ao projeto de Guaidó ao validar a instalação de um governo paralelo.

A dinâmica seria a seguinte: publicariam as pesquisas de boca de urna nas primeiras horas da tarde, a oposição alegaria fraude e então viria a pressão para não reconhecer os resultados das eleições. O representante da Plataforma Unitária pela Democracia, Biagio Pilieri afirmou que só serão reconhecidos  os votos que constarem da sua própria ata, um preâmbulo ao possível desconhecimento dos resultados emitidos pelo órgão de governo.

               Em entrevista coletiva, Biagio afirmou que  “vamos ter as atas das 30.026 mesas e dos mais de 15 mil centros de votação, nas mais de 1.100 freguesias (…) Vamos respeitar o que dizem essas atas num processo que tem de ser livre, democrático e transparente naquele dia. O que quer que diga a nossa ata, qual é a vontade do povo da Venezuela, é claro que vamos respeitá-la.

É preciso lembrar que a ONG Súmate, criada por María Corina Machado em 2002 para servir como Centro Nacional Eleitoral paralelo, participa da organização dos comandos e grupos de choque que divulgariam a vitória fictícia de Edmundo González .

O esquema  da direita de falsear os resultados eleitorais

A recusa em assinar o Acordo de Reconhecimento de Resultados, proposto pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) no início da campanha é um elemento fundamental para caracterizar a atitude golpista da direita. O candidato do PUD, Edmundo González Urrutia, recusou-se a assinar,  argumentando que o acordo “é uma indicação do preconceito que caracteriza esta campanha desigual”.. A recusa em assinar o Acordo de Reconhecimento de Resultados revela a intenção deste sector da oposição em recorrer a acusações de fraude como mecanismo para desestabilizar o país, seguindo um padrão já observado em episódios anteriores, como os de 2014 e 2017.

Outro elemento claramente golpista é a manipulação das pesquisas eleitorais. A oposição, através de seus porta-vozes e meios de comunicação oficiais , vem divulgando pesquisas que mostram Edmundo González como vencedor, minimizando as chances de vitória do chavismo.

Além disso, é importante destacar que embora os meios de comunicação privados e estrangeiros tenham promovido a divulgação destas pesquisas manipuladas, rejeitaram a divulgação das outras pesquisas , como as de Hinterlaces, ICS, Dataviva e Ideadatos, que projetam o Presidente Maduro como o vencedor.

 Há também a iniciativa de criar um centro de informática em Miami , nos Estados Unidos, de onde pretendem declarar fraude no dia das eleições.  O centro foi criado por um familiar de Magalli Meda, gestora de planeamento estratégico da organização de extrema direita Vente Venezuela de Corina Machado, e tem como objetivo emitir declarações de fraude no dia das eleições presidenciais, marcadas para 28 de julho.

 A influência dos meios de comunicação internacionais no contexto eleitoral tornou-se um fator determinante que pode alterar a percepção pública e, portanto, o clima político do país. Espera-se que redes como a Bloomberg e a Reuters apresentem figuras da oposição como María Corina Machado e Edmundo como heróis que enfrentam o chavismo em condições adversas.

Paramilitares colombianos se organizam para invadir a Venezuela

Esta não é uma estratégia nova. Em 2019, uma tendência semelhante foi observada durante a tentativa de imposição de Juan Guaidó como presidente interino. A mídia internacional, com uma abordagem totalmente tendenciosa, deu ampla cobertura ao movimento de Guaidó e validou um processo que não contou com o apoio da maioria da população venezuelana.

As grandes agências de notícias internacionais, juntamente com suas franquias espalhadas por todo o hemisfério, tecem uma narrativa que apresenta o triunfo de Edmundo González como um fato inelutável que deslegitima a priori  qualquer outro resultado, chamando-o de fraudulento, o que coloca em sério risco a paz, a segurança e a estabilidade do país.

A canção bolivariana de Ali Primeira, cantor popular venezuelano já  dizia:

“El resultado es claro

la burgesía es hija de la colonia y viceversa

la opresión está reunida en maza

bajo un solo estandarte

si la lucha por la libertad se dispersa

no habra victoria en el combate”


ARGENTINA: A involução democrática


ATÍLIO BORON

PUBLICADO EM 25/07/2024


O regime de Javier Milei está a empurrar a Argentina para uma crise de proporções sem precedentes. Uma crise abrangente, multidimensional e multifacetada

O improvável candidato ao Prémio Nobel da Economia está a afundar os principais índices económicos para níveis sem precedentes. Os indicadores de atividade caem, as fábricas funcionam a meia velocidade, os comerciantes vêem as suas vendas despencarem, a inflação está longe de diminuir, o dólar dispara, o desemprego cresce incontrolavelmente e os salários dos trabalhadores, inscritos ou precários, são iguais. das aposentadorias e pensões desabam mês a mês. Tudo isto é celebrado como um sucesso pelos exóticos paroquianos da seita anarcocapitalista e pelos seus beneficiários inescrupulosos.

É claro que tal desastre, cujas repercussões sociais e políticas são extremamente graves, não é novo na nossa história. A ditadura genocida, o menemismo e mais recentemente o macrismo promoveram este projecto com a eterna esperança de que depois de tanta dor – considerada inevitável – a economia argentina renasceria liberta das suas heranças estatistas e “populistas” e avançaria resolutamente para o desenvolvimento.

Este compromisso com os mercados livres não passou de uma ilusão desastrosa, pois nunca tinha sido verificado na história, em nenhum país, e a Argentina não foi exceção. Mas serviu de pretexto para esconder o facto de que se tratava de favorecer a redistribuição regressiva do rendimento e de concentrar a riqueza em cada vez menos mãos. Sabemos como terminaram estas provações neoliberais: criaram sociedades muito mais injustas, aumentaram o número de pobres e indigentes, aprofundaram o atraso económico nacional e a nossa dependência externa.

Com um sorriso

No entanto, o caso atual apresenta uma peculiaridade abjeta: quando Martínez de Hoz, em 1976, apresentou seu programa de refundação neoliberal da economia argentina, fê-lo com tom solene e severo, reconhecendo como um médico que diagnostica um paciente gravemente doente, que ele foi um remédio amargo, mas necessário para tirar a economia argentina do pântano do subdesenvolvimento.

Por outro lado, quando os seus herdeiros ideológicos anunciam a mesma política, fazem-no com um sorriso luminoso no rosto, revelando assim o prazer sádico que produz o trabalho de destruição comandado pela “toupeira”, cuja missão auto-designada é destruir o Estado por dentro e liquidar assim as conquistas económicas e sociais alcançadas durante um século de lutas populares. Este e nenhum outro é o objectivo fundamental da actual experiência política.

Um projecto deste tipo só pode enfraquecer a vitalidade da nossa democracia, o que significa que a actual Argentina só pode ser rigorosamente conceptualizada como uma semidemocracia, com tendência a degenerar num regime francamente autoritário. A arrogância presidencial, o fanatismo com que Javier Milei adere às suas ideias, aliado ao seu absoluto desprezo pelo diálogo – visto que, como profeta esclarecido, o presidente se considera dono da verdade absoluta – cristaliza-se num conglomerado de atitudes e práticas profundamente refratárias ao jogo democrático.

Daí decorre o abuso permanente da divisão de poderes e os insultos e grosserias que dirige a deputados, senadores e governadores – a desastrosa “casta política” – bem como a jornalistas e políticos que não partilham dos seus delírios, além de seu desafio aberto às normas da república democrática quando ameaça vetar qualquer lei aprovada pelo Congresso que não seja do seu agrado. Dicho esto, es obvio que, por el carácter de su gestión, así como por lo desaforado de su estilo personal, el presidente se sitúa a tan solo un paso de convertirse en un dictador, violando las atribuciones establecidas por la Constitución y las leyes de nosso país.

Esta deterioração da qualidade da nossa democracia ocorre com a cumplicidade mal disfarçada da “imprensa séria”, que há muito deixou de fazer jornalismo, e de procuradores e juízes absortos em preservar os seus privilégios antidemocráticos, que não fazem o menor gesto para evitar a resultado autoritário que acompanha o exercício despótico do poder presidencial.

Um panorama que é institucionalmente preocupante, agrava-se quando tomamos nota das crescentes limitações aos direitos civis e políticos dos cidadãos impostas por estes “libertários” farsescos que, como demonstram os acontecimentos recentes, concebem a liberdade de reunião e expressão, ou de protesto pacífico, como actos terroristas ou como conspirações destinadas a produzir um golpe de Estado.

Mentiras piedosas

Com o Governo Milei, a Argentina não só se tornou uma sociedade mais injusta e desigual. A qualidade da sua democracia também sofreu, cada vez mais desacreditada aos olhos do povo. As “pressões” do presidente sobre legisladores e governadores provinciais, realizadas em plena luz do dia, e a escandalosa compra e venda de votos no Congresso Nacional para aprovação da Lei de Bases, DNU 70 ou qualquer iniciativa do Executivo reforçaram a convicção de que a corrupção é enraizados nas alturas do Estado e que a soberania popular e a democracia representativa são mentiras brancas espalhadas pela autocracia dominante. Como lembrou certa vez o ex-presidente do Brasil, Fernando H. Cardoso, ao se referir às vicissitudes da democracia na América Latina, situações como as que acabamos de descrever “permeiam o regime democrático com um cheiro de farsa”.

Apesar da gravidade do diagnóstico, ainda temos tempo para evitar a destruição da nossa democracia. É claro que não serão as suas instituições que nos protegerão de tal tragédia. Nem os legisladores, nem os juízes ou os procuradores virão em nosso auxílio para recuperar a ordem democrática. Nem a imprensa hegemónica.

Só a presença massiva e pacífica das massas nas ruas e praças da república poderá pôr fim ao estabelecimento de um regime autoritário. As instituições, dói admitir (mas é muito pior negá-lo), traíram a democracia. Como cidadãos estamos indefesos, e só o nosso protagonismo nos salvará de cair novamente numa cruel ditadura, até agora vestida com surrados trajes pseudodemocráticos.