Infoecosys: contra o neoliberalismo, o fascismo e imperialismo. A favor dos trabalhadores: um novo Brasil é possível !

Boletim Econômico Ecosys no. 6

Baixar este artigo em pdf Prof. Dr. Ricardo F. Rabelo

Diagnóstico da Economia Brasileira Atual

A economia brasileira enfrenta grandes desafios e o diagnóstico da sua real situação deve ser feito com base em nos dados existentes visando prever sua evolução futura. Nossa análise vai utilizar o indicador mais tradicional e mais utilizado para detectar a saúde ou não de uma economia, o Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com o IBGE, o PIB do Brasil teve o crescimento de 7,7% no 3º trimestre de 2020, um recorde para o período.

Mas, por trás dessa aparência, sobressai uma economia com uma performance abaixo do que previam os principais analistas e com uma grande dificuldade de recuperar minimamente o crescimento ocorrido em trimestres anteriores. Se considerarmos a série histórica de 2020, veremos que esse índice se deve a base deprimida do trimestre anterior, fortemente atingido pelas consequências econômicas da pandemia do COVID 19.

Segundo o IBGE, a economia voltou ao nível   do início de 2017, e não conseguiu superar os baixos níveis de crescimento do período pré-crise. O PIB teve crescimento negativo de 5% no acumulado do ano e de 3,4% em 12 meses. Comparando-se com o mesmo período de 2019, houve queda de 3,9%. Isso significa que houve reversão das perdas provocadas pela pandemia, mas não totalmente. Outro aspecto importante é que a economia saiu da chamada recessão técnica, quando apresenta dois resultados sucessivos negativos de crescimento do PIB.

Analisando setorialmente, ainda comparando-se com o trimestre anterior, a Agropecuária caiu 0,5%, a Indústria cresceu 14,8% e os Serviços subiram 6,3%.A queda da agricultura se deve a que a safra da soja, e outros produtos, se concentra no período inicial do ano. 

          A indústria, que sempre funciona como um motor da economia brasileira, teve seu dinamismo realçado no 3º trimestre. Após a queda de 13% no 2º trimestre, o setor cresceu 14,8% entre julho e setembro, a maior taxa da série histórica do IBGE.

Esse dinamismo se deveu prioritariamente à indústria de transformação, que  cresceu 23,7%, depois de um recuo de 19,1% entre julho e setembro, e retornou ao nível apresentado no primeiro trimestre.

Outro setor que teve forte expansão foi o  comércio , que  cresceu  15,9%, revertendo a queda de 13,7% no trimestre anterior.

Finalmente, o setor de serviços, que tem maior participação no PIB, apresentou uma recuperação mais lenta, com, alta de 6,3% após a forte queda de  9,4% no segundo trimestre.

Não se deve atribuir a esses resultados um grande e  excepcional crescimento, pois a base de  comparação é muito deprimida. Aliás, essa tendência se repetiu em quase todos os países. Segundo dados divulgados pela OCDE, nas 30 economias que já divulgaram os resultados para o 3º. Trimestre, o crescimento do PIB ficou em 8.5% em média.

As consequências econômicas da pandemia ficam mais evidentes no comparativo com o mesmo período do ano anterior..Com relação ao 3º trimestre de 2019, o PIB apresentou  uma queda de 3,9%, a terceira retração seguida nessa base de comparação. Por outro lado,  no acumulado dos quatro trimestres terminados em setembro, houve queda de 3,4% frente aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Já no acumulado do ano até o 3º trimestre, o PIB caiu 5% em relação a igual período do ano passado. Nesta comparação, a agropecuária cresceu 2,4%, enquanto a indústria (-5,1%) e os serviços (-5,3%) mantiveram-se em queda.

Analisando agora pela ótica da demanda, o consumo das famílias registrou expansão de 7,6%, num nível um pouco abaixo do resultado do PIB, pois compensando apenas parte da queda de 11,3% no segundo trimestre. Isto significa que as famílias não voltaram a consumir no nível  anterior à pandemia. A razão principal  é a crise no mercado de trabalho que reduz a massa salarial disponível , sendo  um dos principais limitadores da retomada do consumo pelas famílias. O que impediu uma queda maior foi o auxílio emergencial oferecido pelo governo.

Os  investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) cresceram 11%, após queda de 16,5% no trimestre anterior. No acumulado do ano, a queda é de 5,5%. A taxa de investimento em percentual do PIB foi de 16,2% do PIB contra 16,3% no mesmo período do ano anterior.

Já em relação ao setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram queda de 2,1%, enquanto as importações caíram 9,6% em relação ao segundo trimestre, em resultados também influenciados pela recessão e  pelo câmbio.

O desenvolvimento da economia brasileira nos próximos trimestres e , principalmente, no último trimestre de 2020 tende para uma maior desaceleração ou, no máximo uma recuperação seguida de estabilidade em torno a números baixos de crescimento. Nada indica que se possa ter uma saída da crise em V, isto é com uma aceleração rápida e forte como afirmou o Ministro da Economia.. Na verdade, apesar do crescimento forte do PIB no 3º. trimestre, a economia brasileira ainda não voltou ao nível pré-crise e se encontra nos menores níveis  dos últimos dez anos. A tendência é que tenhamos um crescimento mais lento nos últimos três meses deste ano e de retorno ao patamar de 2019 em algum momento de 2021 ou 2022.

A variável chave para se definir a tendência da economia brasileira no próximo período é o auxilio emergencial, o qual, foi adotado  com transferências para estados e municípios um elenco de medidas com o mesmo rumo. Esse “pacote”  teve um impacto muito positivo na  atividade econômica, o que explica os índices   de crescimento do PIB no 3º. Trimestre. São medidas que demandaram um custo de mais de 8% do PIB, sendo que o Brasil ficou como exemplo de medidas contracíclicas para os outros países, que também aplicaram medidas de estímulo, mas de amplitude muito menor.

 Seu resultado final, além daquele relativo à questão social, foi o ter implicado  em previsões de queda do PIB em 2020 de 5% ou talvez ainda menos, ao invés dos 6,5% projetados anteriormente.

O fato de o Governo Bolsonaro ter anunciado sua suspensão , a partir de 2021, mostra bem o grau de ignorância que acomete o governo e sua equipe econômica  pois tal insanidade pode provocar  um aumento muito fortemente  negativo do PIB ao longo de 2021 tendo em vista as tendencias de estagnação do crescimento existentes na economia brasileira.