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Jornal Info no. 13

A traição de Pedro Castillo

                                                                                                        Prof. Dr. Ricardo Rabelo

Não se deve duvidar do poder do imperialismo estadunidense de se impor aos Governos da América Latina. Foi o caso surpreendente de Lenin Moreno, no Equador, que eleito pelo programa nacionalista de Rafael Correia, mudou  completamente a orientação política do Governo para um alinhamento total com a   Casa Branca, submetendo a economia  do país às nefastas políticas neoliberais. Esse é o preço que todos que rezam pela cartilha da Casa Branca pagam: a  total dependência econômica que o país volta a ter . No caso do Equador o país estava se libertando do FMI e da dívida externa, devido a auditoria cidadã que havia abatido parte não desprezível da dívida oficial. Expulsou a base norte americana que ali existia para vigiar militarmente o povo equatoriano. Estava conseguindo uma parceria econômica  importante com a China, com grandes investimentos. Enfim, se alguma vantagem houve na guinada política do governo equatoriano foi de cunho pessoal para o próprio Lenin Moreno, mas nada houve de ganhos para  o país.

O mesmo processo está acontecendo agora no Peru. Como se sabe, foi eleito o candidato de um partido marxista leninista, Pedro Castillo que se consagrou como líder simples do povo em prol de  mudanças estruturais no país. As promessas eram de estatização das empresas mineradoras, que sempre submeteram o Peru a uma situação de economia colonial, a implantação de políticas sociais, a convocação de uma Constituinte para substituir a constituição herdada da ditadura de Fujimori, etc. Do ponto de vista internacional, anunciava-se uma politica externa independente e voltada  para a integração econômica da América Latina, inclusive com a saída do país do Grupo de Lima. Tudo isto começou a mudar com a indicação da  equipe econômica do Governo, que logo foi “acalmando os mercados”, negando  a intenção de estatizar as minas, embora ainda mantivesse a idéia de um governo de esquerda.

Vídeo – https://youtu.be/U2kRPdgn7_0   Mostra que Governo Peruano manda fechar minas já em processo de fechamento desde 2017, e assegura que respeitará as demais

A direita peruana procurou  sitiar o governo, usando de um instrumento existente na constituição em que os ministros do Governo podem ser rejeitados pelo Congresso. Um a um foram sendo impedidos os ministros mais radicais e uma verdadeira campanha furiosa foi feita contra o ministro das relações exteriores, Héctor Béjar , ligado ao Partido Peru Libre, conseguindo seu afastamento,. pelo presidente Pedro Castillo. Nessa operação de  derrotar o Itamaraty peruano conseguiu-se que fosse indicado para o lugar  um “amigo” da Casa Branca, o Embaixador Maurtua.

 Foi abandonada a política externa independente e inicia-se um processo de aproximação do Peru com os Estados Unidos. Mas o ponto de virada definitivo foi marcado  quando o presidente  forçou a renúncia de seu primeiro-ministro, Guido Bellido, braço-direito de Vladimir Cerrón, o líder da formação marxista-leninista que levou Castillo à presidência. Desta feita Castillo decidiu eliminar qualquer suspeita de radicalismo do governo, alijando do ministério os membros do Peru Libre.

Vídeo  https://youtu.be/LtINLHYNG2Y  – A renúncia do Gabinete

Algo estranho aconteceu desde o início, quando a eleição de Castillo não foi objeto de declarações iradas do  ministo do Departamento de Estado, nem pela OEA. Quando a senhora Fujimori perdeu as eleições para Pedro Castillo no Peru, denunciou a fraude e contestou as decisões do corpo eleitoral; Washington não aceitou se alinhar com ela. Ele até instruiu a OEA a agir de acordo com essa atitude, razão pela qual uma “delegação Keikista” foi rejeitada pelo organismo.

Além disto, os Estados Unidos decidiram então “reconhecer” a vitória de Castillo, assumindo a derrota da direita peruana.  A opção, vista inicialmente como um comportamento “democrático” de Biden, escondia a verdadeira estratégia:  envolver o regime peruano até que ele fosse dobrado sob o peso do Império. Não  se sabe  como foi obtida a mudança, mas o êxito americano foi que  Castillo foi melhor que a encomenda.

Conseguiu-se que  o Congresso peruano – com apenas 6 votos contra do Peru Libre – promulgasse uma Resolução Legislativa, autorizando o ingresso de militares dos Estados Unidos em solo peruano.  Em seguida o governo realizou Operações Navais conjuntas em Huacho, com a participação da Marinha da América do Norte.

Além disso, o governo deu início a uma ampliação do “acordo de cooperação” com a agência USAID, ligada aos serviços secretos dos Estados Unidos. Tudo isso ainda  com Guido Bellido como Premier.

Na segunda etapa, Pedro Castillo fez presença na OEA. Como se sabe, a OEA enfrenta até hoje um grande desgaste devido a  triste  atuação na Bolívia, por conta do  Golpe Fascista de novembro de 2020. Em função disto,  Almagro “cobrou a conta” do presidente peruano pelo apoio dado para garantir sua eleição. Isso explica a frase final – “Viva a OEA!” que Castillo pronunciou quase gaguejando.

Vídeo https://youtu.be/rJ9Ws3sqcPU   – Não somos comunistas, não vamos expropriar a ninguém “ – Pedro Castillo no Conselho Geral da OEA

O terceiro momento ocorreu por ocasião das eleições na Nicarágua. Antes delas, no Conselho Geral da OEA, Almagro obteve uma “condenação” das eleições na pátria de Sandino. A Bolívia votou contra essa resolução, a Argentina e o México se abstiveram, mas o Peru votou surpreendentemente a favor.

No dia seguinte às eleições na Nicarágua, Almagro distribuiu uma espécie de “caderno de instruções”, dirigido aos “governos amigos” da região, indicando como deveriam se pronunciar sobre o assunto. Bem, esse livreto foi convertido imediatamente em uma “Declaração do Ministério das Relações Exteriores do Peru” .

Quem Maurtua consultou para isso? Ninguém sabe. Mas nem a embaixada peruana em Manágua, nem os peruanos que viram essas eleições ao vivo, poderiam ter contribuído para essa condenação da Nicarágua por Castillo. As eleições na Nicarágua foram, de fato, cristalinas, transparentes, democráticas e participativas. Um exemplo de eleições na América Latina.

Finalmente, um quarto momento se aproxima: a Casa Branca marcou uma “Cúpula Democrática”, que acontecerá em Washington nos dias 9 e 10 de dezembro. A reunião contará com convidados selecionados. López Obrador, do México, não foi considerado; nem Fernández, da Argentina; nem Arce, da Bolívia. Mas sim Piñera, Duque, La Calle, Lasso… e Castillo. O “professor” peruano comparecerá ao encontro? O que ele vai fazer no meio dessa verdadeira gangue de ditadores e assassinos?

Como a política do Tio Sam não deixa nada por fazer, o Conselho Geral da OEA aceitou por unanimidade a proposta do embaixador do Peru, -Harold Forshait,- de que a Cúpula da OEA, o Ministério das Colônias dos EUA,  programada para 2022 seja realizada no Peru. Isso só ocorreu duas vezes antes. Em 1997, no auge da ditadura de Fujimori e em 2010, sob o governo  de Alan García.

Nesta ocasião – seria a terceira – Pedro Castillo pôde juntar o seu nome ao de seus ilustres antecessores como anfitrião dos 34 chefes de Estado e de governo da América, liderados por Joe Biden. Quanta honra !.Por enquanto, a Cúpula de Washington aparece como o principal perigo para o presidente Castillo. E se alguém o interpelar pelo fato de ter assumido o compromisso de liderar uma Política Externa Independente, Autônoma, Soberana e Solidária?

Vídeo https://youtu.be/gSxCcFS6pLw  A Incógnita do candidato Pedro Castillo

(Rui Costa Pimenta no 247)