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Internacional

Ajuste Estrutural da economia espanhola já está definido para depois das eleições

Por Ricardo Rabelo

O Presidente Lula assinou uma declaração de apoio ao PSOE e aliados eleições espanholas, que ocorreram em 23 de julho compondo uma espécie de frente internacional contra a ameaça fascista representada pelo partido Vox. A frente deu resultado, pois o grande derrotado nas eleições foi o VOX.
Os jornais brasileiros dizem que houve vitória da direita. Distorcem verdade em função das preferências ideológicas dos seus donos.
Os resultados mostram que a vitória foi, na verdade, da centro-esquerda, já que a direita representada pelo Partido Popular queria obter um mandato para “limpar o país “das pequenas mudanças feitas pelo Governo de Pedro Sanchez. Isso não aconteceu, pois o PP obteve apenas 136 cadeiras no parlamento, longe das 176 necessárias para ser governo. O partido de extrema direita, o VOX, passou de 52 cadeiras ganhas há quatro anos para 33 agora. Mesmo com possível frente PP- VOX, eles somam 169 assentos. Com os deputados da UPN (União do Povo Navarro) e a Coalizão Canária, a direita pode chegar a no máximo 171. E dificilmente os partidos separatistas se uniriam à frente de direita. O bloco da esquerda chega a 172. Precisa do apoio do Partido Juntos pela Catalunha (Junts) para formar o Governo. Não se sabe ainda qual atitude o Junts adotará, pois tem vários líderes do partido perseguidos pelo governo do espanhol por sua tentativa de plebiscito “separatista”. A coalizão de 15 partidos de esquerda reunida no Sumar, que inclui o Podemos, chegou, com 31 cadeiras, perto das obtidas pelo VOX e tende a ter maior influência em um governo de centro-esquerda.
Foi evitada vitória arrasadora da direita, o que afasta as ameaças de retrocesso político no país. Mas será que as ameaças aos trabalhadores no plano econômico também estarão afastadas? Infelizmente não. O caminho adotado pela União Europeia para enfrentar os problemas econômicos de seus membros é o das reformas estruturais que sempre levaram a políticas de austeridade, cortes e privatizações, e uma especial obsessão pela cobrança de impostos. Reina o mais absoluto silêncio em todos os partidos sobre o que eles reservaram para seus cidadãos após as eleições.
O chamado “Plano de Recuperação, Transformação e Resiliência da Espanha pode”, segundo o discurso oficial, contém todos os ingredientes para que a “recuperação seja verde, digital, inclusiva e social. Isso é meia verdade porque são propostas mudanças em termos trabalhistas, fiscais e previdenciários, que são, para quem conhece as tramas da União Europeia, ficar com várias pulgas atrás da orelha.
O plano, que inclui as propostas apresentadas pela “Confederación Española de Organizaciones Empresariales” (CEOE) e redigidas por advogados dos principais escritórios de advocacia Cuatrecasas, Garrigues, Uría-Menéndez e da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), envolve a terceirização total do setor público estatal para quem a “epidemia da COVID” foi “um desafio” e “uma oportunidade” para realizar mudanças estratégicas que são fundamentais de acordo com as empresas vinculadas com os principais grupos económicos espanhóis.
As exigências vinculadas aos fundos europeus do “Next Generation Europe”(a Nova Geração Europa) são só aparentemente diferentes de planos de ajuste fiscal porque substitui os ditames da Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) pelo das grandes consultorias privadas. As mudanças que deverão ser adotadas por diferentes órgãos públicos acontecerão sem debate público, sem alarde e sem a má reputação da Troika. Assim foram decididas a reforma da previdência, a terceirização de grandes setores públicos e a liquidação gradativa e encoberta dos empregos públicos, substituídos nos últimos três anos por cargos interinos.
Para dar suporte político a estas reformas, em fevereiro deste ano foi formada uma comissão mista do Parlamento Europeu encarregada de fiscalizar se as sugestões das mais importantes consultoras privadas do mundo Deloitte, Ernst & Young, KPMG ou PwC estão sendo implementadas pela Espanha. Este grupo é liderado por Mónika Hochlmeier, dos conservadores alemães; a eurodeputada socialista espanhola, Isabel García Muñoz, o popular português José Manuel Fernández, a socialista italiana Caterina Chinnici e Jorge Buxadé do tão temido VOX. A esta comissão de juntaram cinco espanhóis que serão “membros acompanhantes” nas reuniões: Isabel Benjumea (PP), Eider Gardiazábal (PSOE), Eva Poptcheva, Susana Solís (ambos do Ciudadanos) e Ernest Urtasun (Catalunya en Comú-Podemos).
A composição plural deste grupo mostra que os problemáticos fascistas do Vox participarão das medidas a serem adotadas juntamente com os democratas de todos os gêneros. A quem será atribuída a culpa quando o verdadeiro teor do “ajuste” vier a público?
Segundo o Observatório da Dívida da Globalização, uma das principais conclusões do Plano de Recuperação é que os maiores beneficiários deste megaprojeto serão as grandes empresas. O montante de recursos a ser investido em saúde, por exemplo, é de apenas 1,54% do total. E , mesmo assim, 74% dos recursos será empregue em renovação de equipamentos ofertados pelas empresas e não em contratações ou treinamento de profissionais.
Para o Observatório a conclusão é clara, “se não houver previsões a esse respeito, este será um momento de cortes profundos e expansão da pobreza”, já que a prioridade da economia será o endividamento, e os credores, neste caso, serão aqueles que hoje desenham a política econômica. A “Próxima Geração” (Next Generation) é assim uma reedição da Troika de 2011, mas com todos os partidos do parlamento, da esquerda à extrema-direita, juntos e todos ajoelhados perante os grandes monopólios.

25/07/2023

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