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Internacional

África e América Latina: a atualidade das lutas anti-imperialistas

Por Ricardo Rabelo

            O mundo hoje assiste à crise estrutural do capitalismo e a resposta à essa crise é o revigoramento de um imperialismo violento e feroz. O imperialismo dominante é, sem dúvida o estadunidense ou simplesmente yankee. Defendem a “ordem mundial baseada em regras”. Regras estas, evidentemente, determinadas pelos EUA. Quem resistir terá a resposta imediata e a violência que varia apenas de grau. O imperialismo é democrático, defende as minorias. Na Uganda, por exemplo, o Banco Mundial corta todos os empréstimos acordados porque o país aprovou uma lei homofóbica. Ou será porque o país se pronunciou firmemente contra a submissão colonial na Cúpula   Rússia- África?

                Os EUA ameaçam Rússia e China com a destruição e divisão dos dois países em vários minis países. Como fizeram com a Iugoslávia. Não há que duvidar que podem fazê-lo. As bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki já dão a  medida  desse furor destrutivo e assassino.  Os EUA já mataram, com as operações criminosas da CIA, vários líderes anti-imperialistas. Já destruíram, com o uso intenso de suas Forças Armadas , vários países como a Líbia , o Iraque, e a Síria, que permanece ocupada por tropas que patrocinam o roubo do petróleo do país. No civilizado mundo ocidental submetem a Europa, Austrália, Coréia do Sul e o Japão a seguir os seus interesses sem disparar um tiro sequer.  Estão condenando o continente europeu à completa perda de soberania nacional de seus países e à desindustrialização.

A África é um continente imenso, com 54 estados soberanos. A América Latina e o Caribe coincidem no mesmo número de Estados, levando em conta as numerosas ilhas caribenhas. Mas em ambos os continentes ainda existem territórios dependentes de antigas potências coloniais. As guerras de independência na América Latina começaram no início do século XIX e os novos estados foram finalmente constituídos como repúblicaspresidencialistas. A América Latina/Caribe manteve sua independência formal, pois a dependência econômica  que se estabeleceu com a Europa e particularmente com a Inglaterra durante o século XIX, passou para as mãos dos Estados Unidos durante o século XX, com base na doutrina Monroe.
O México teve uma parte fundamental do país abocanhado pelos EUA numa guerra tipicamente colonial. A Nicarágua foi invadida várias vezes pelos marines, Cuba era um balneário a serviço dos EUA, Venezuela um poço de petróleo.

 Após as revoluções nestes países sucederam-se golpes de estado e ditaduras para garantir a “democracia” nestes países.  As eleições só são válidas se garantem a vitória do candidato “democrático”. Como o recentemente o virtualmente eleito Arévalo na Guatemala, ou o opositor de Luísa Gonzales no Equador, empresário Daniel Noboa Azin, filho de um dos maiores bilionários do país.

  A África, por outro lado, é um território gigantesco, com uma população escravizada desde um longo passado histórico, mas que merecia o amplo interesse da Europa em plena era capitalista, de modo que a divisão da África foi acertada na  Conferência  de Berlim (1884-1885). , inaugurando assim a expansão imperialista europeia. A “independência” das colônias africanas ocorreu após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a “descolonização” durou até meados da década de 1970.


               A América Latina/Caribe e, sobretudo, a África, são regiões onde o colonialismo europeu marcou as estruturas históricas de subdesenvolvimento, pobreza, dependência externa e profundas divisões sociais que se caracterizam pela dominação interna de elites ricas e privilegiadas, em comparação com a maioria dos os habitantes que continuam a viver em condições de pobreza e exclusão. Enquanto a África é o continente com a maior polarização humana e a maior pobreza/miséria do mundo, a América Latina/Caribe é a região mais desigual entre todos os continentes. A pilhagem de recursos, as intervenções diretas dos poderes para garantir os seus interesses, a brutal incursão de empresas estrangeiras ávidas por minas e tantos outros ricos produtos naturais das mais variadas geografias,

             Essas condições adversas começaram a mudar, entre avanços, estagnações e retrocessos, após a guerra. A Conferência de Bandung (1955) pode ser considerada como o ponto de partida, para o nascimento do então chamado Terceiro Mundo , que reivindicava não só independência e soberania, mas também  o não alinhamento  com qualquer um dos dois blocos mundiais da época: o capitalismo, hegemonizado pelos EUA e o socialismo, com a URSS no comando. No entanto, a África sempre contou com o algum apoio da URSS nos processos de descolonização.

          O  imperialismo dominou o  mundo após o  a derrota da URSS na “guerra Fria” e a sua desintegração pela submissão da burocracia pós estalinismo ao neoliberalismo de choque.  Na América Latina/Caribe com as ditaduras militares pró EUA   e também na África,  uma verdadeira recolonização foi imposta. 

Na América Latina, desde as últimas décadas do século XX, a penetração do neoliberalismo e o papel do FMI foram desastrosos. Mas em ambos os continentes também cresceram lentamente as relações econômicas com a Rússia, China e outros países e regiões, incluindo os ainda poucos vínculos que se estabeleceram entre a América Latina/Caribe e a África.

A reação ao imperialismo, com o desastre das política neoliberais cresceu em lutas do movimento operário que levou ao poder governos nacionalistas e reformistas  que souberam se aproveitar da crise do imperialismo  para lhe  impor algumas derrotas parciais e temporárias. Na África ressurge o movimento anti-imperialista e  anticolonialista, como as sublevações populares que levaram a governos militares nos países da África Ocidental. A reação ao imperialismo também se dá nos países alvos prioritários do imperialismo:Rússia e China, assim como em  entidades regionais como os BRICS, UNASUL e União Africana que contribuem para solapar a  hegemonia do “Ocidente”  através da reação às violentas sanções impostas pelos EUA e Europa. O centro principal dessa reação é a guerra na Ucrânia, visando impedir o avanço da OTAN  e possibilitar as libertações da Criméia e Republicas do Donbass contra da opressão do regime de Kiev.

Os EUA buscam retomar, através de governos democráticos de “esquerda”, como do Chile e da Colômbia, ou com ditaduras como a de Dina Boluarte no Perú,  a retomada da doutrina Monroe  revisitada com ingredientes pseudo feministas, antirracistas e anti hemofobia ,  enquanto a Europa fracassa em  relançar a aproximação tanto com a América Latina/Caribe quanto com a África, pois mantém laços de dominação colonial com ambos continentes. Enquanto isso, a Rússia conseguiu expandir sua influência particularmente na África, enquanto a China está fazendo isso lá e rapidamente na América Latina.

        Na recente cúpula da CELAC e da União Europeia (UE), realizada em 17 e 18 de julho (2023), foi acordada uma Declaração final na qual se condena a escravidão e o tráfico de escravos, que inclui o comércio transatlântico, como “tragédias hediondas” e um “crime contra a humanidade”. A Cimeira com a CELAC não admitiu o alinhamento desta região com a Europa na condenação da Rússia pela guerra na Ucrânia.

   Também na mais recente II Cúpula Rússia-África realizada em 27 e 28 de julho (2023), a Declaração final é contundente ao afirmar: “

“Promover a conclusão do processo de descolonização na África e buscar a compensação pelos danos econômicos e humanitários infligidos aos Estados africanos como resultado das políticas coloniais, incluindo a restituição de bens culturais retirados no processo de pilhagem colonial.”

            A Cúpula com a África reconheceu o apoio histórico da Rússia à causa anticolonial, mas promoveu um plano específico para chegar a um acordo de paz na Ucrânia.As críticas de vários governantes africanos contra o Ocidente foram explícitas e até radicais. Os países africanos, assim como os países latino-americanos e caribenhos, não estão dispostos a continuar com as sanções unilaterais.A CELAC conseguiu aprovar a rejeição do bloqueio a Cuba. Para a África e também para a América Latina/Caribe, tanto a Rússia quanto a China não são potências “inimigas”, como quer impor os EUA, mas oferecem possibilidades econômicas válidas e instrumentos para promover o desenvolvimento, como acordos sobre energia, comunicações, infra-estrutura,

    Esses processos de mudança mundial ainda não são fortemente considerados nos debates políticos. Países como o Argentina, cuja regressão nesta matéria é impressionante, pode vir a ter um governo que, por trás da estética anti sistema e “libertária’ professa uma ideologia neoliberal radical, que rejeita o apoio que a China propõe em troca  da  submissão total ao imperialismo. Representa também o fracasso do nacionalismo peronista, com um candidato refém do FMI e do Banco Mundial e alheio às condições de vida e trabalho da população, que se deterioraram muito nos anos recentes. 

No entanto, o fortalecimento do anteriormente chamado Terceiro Mundo, a partir da aproximação entre América Latina/Caribe e África, deve ser abordado e promovido de forma a propiciar condições de mudanças efetivamente revolucionárias, rompendo definitivamente com as amarras do imperialismo e da “ordem internacional baseada em regras”.

Publicado também no DCO de 22/08/2023

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