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Internacional

Palestina, um povo, uma cultura

A faixa de Gaza , apesar da pesada opressão de Israel e de deficiente infraestrutura, não é uma terra de “animais humanos”

Por Ricardo Rabelo

Quando se observa as ruínas provocada pelo mais brutal genocídio provocado pelo imperialismo, através do Estado títere de Israel e se vê a população ferida, destroçada e assassinada sem ter para onde fugir não se tem ideia do que é a Faixa de Gaza e seu povo. A faixa de Gaza , apesar da pesada opressão de Israel e de deficiente infraestrutura, não é uma terra de “animais humanos” como disse o Ministro da Defesa de Israel. Ela tem uma cultura pujante, e conseguiu construir na faixa a bela Cidade de Gaza(norte), que tem população de  590.481 habitantes (em 2023), e algumas cidades menores como Beit Hanoun (32.187 habitantes em 2008)(nordeste), Khan Younis (280 mil habitantes em 2006) e Rafah (71 mil habitantes em 2008), sendo estas duas ultimas cidades situadas no sul de Gaza. 

Cidade de Gaza, obra dos palestinos (antes do bombardeio)

As principais atividades culturais palestinas

A cultura palestina é contestadora da opressão e não só na Palestina, é moderna e avançada, não é uma cultura islâmica, mas plenamente sintonizada com a realidade de seu povo. É muito difícil levantar toda a riqueza da cultura Palestina porque a imprensa em geral está contaminada pelo vírus sionista radical, que quer liquidar com todos os seres humanos desta região do planeta. O levantamento feito aqui dá apenas um quadro bastante resumido do cenário cultural da Palestina, mas ele é, mesmo assim, muito relevante. A situação atual é que toda essa atividade em vários planos da atividade artística talvez tenha sido sepultado em destroços pela brutalidade sionista israelense. 

Cinema 

O cinema palestino nasceu relativamente tarde, mas tem sido um dos mais criativos dentre os países árabes. A árdua tarefa de criar cinema sob forte repressão israelense, abordando amplas interações de identidade e nacionalidade, estabelece o ambiente para a criação das mais significativas obras do cinema da região. O filme dramático de 1996 “Crónica de um desaparecimento” teve ampla aceitação internacional, tendo ganho o “Prémio Luigi De Laurentiis” no Festival de Cinema de Veneza. Entre os diretores importantes deste período estão: Rashid Masharawi, Michel Khleifi , Ali Nassa e Elia Suleiman. Em 2008 foram produzidos três longas-metragens e oito curtas-metragens palestinos, um número recorde de produções. Em 2010, o curta-metragem Something Sweet, dirigido por Khalil al-Muzzayen, teve relevância internacional e foi exibido no Festival de Cinema de Cannes. Em 2011, um festival de cinema organizado pelo Centro de Assuntos da Mulher de Gaza incluiu documentários e peças de ficção sobre temas relativos ao gênero feminino. 

Universidades

A Faixa de Gaza possui 4 Universidades, nos mais variados campos do ensino.

1) Universidade Al-Aqsa Campos de estudo: Administração de Empresas, Ciência da Computação, Inglês, Educação, Matemática, Psicologia, Finanças e Química. 

2) Universidade Al-Azhar Campos de estudo: Administração de Empresas, Economia, Contabilidade, Inglês, Lei, Matemática, Tecnologia da informação e Química ;

3) Universidade Islâmica de Gaza -Campos de estudo: Administração de Empresas, Economia, Ciência da Computação, Contabilidade, Inglês, Educação, Matemática e Tecnologia da informação

4) Universidade da Palestina- Campos de estudo: Gestão, Inglês, Lei, Educação, Tecnologia da informação, Engenharia Civil, Arquitetura e Educação primária 

Desde o início da Intifada de al-Aqsa, que ocorreu em Setembro de 2000, o acesso às universidades encontra grandes obstáculos para os estudantes palestinos devido ao cerco das zonas autônomas imposta por Israel, bem como às barreiras e buracos que o seu exército cavou nas estradas que levam às universidades. As universidades palestinas foram obrigadas a aprofundar sua regionalização devido às limitações de movimento impostas ao povo palestino. O resultado é a polarização política que é ampla no ambiente universitário, onde os partidos de oposição à dominação israelense exercem uma influência crescente, especialmente nos Conselhos Estudantis.

Música 

Os nomes Ya Zareef Al Tool, El Rass ou Maysa Daw, parecem pouco conhecidos, mas todos têm um grande papel na luta contra a ocupação israelita do território palestino. Essa união entre a arte e a luta se dá porque todas as experiências por que os palestinos passaram formam uma identidade que encontra na música uma forma de expressão. Nesse caso isso é necessário para substituir os mentirosos discursos hegemónicos pró-sionistas pela verdade das lutas e sofrimento de todo um povo. Nesse contexto as lutas e confrontos que persistem na Faixa de Gaza são musicalmente ouvidos e juntamente com as letras se tornam verdadeiros hinos de guerra.

As expressões musicais buscam principalmente o público jovem que formam a maioria da faixa de Gaza e também da Cisjordânia. Por isto, a música popular urbana tem se concentrado no hip-hop e no rap. Um de seus iniciadores da música palestina atual é o grupo DAM criado em 1998. É um trio formado por Tamer Nafar, seu irmão Suhell e Mahmoud Jreri, onde expressam a realidade do apartheid e seus efeitos. Outro grupo musical de destaque é o Khalas (traduzido como “suficiente”), que é uma banda de rock-metal.

Mais recentemente surgiram novos expoentes como Al Nather, produtor e cantor de hip hop amplamente divulgado no mundo árabe. Shabjdeed e El Rass obtiveram grande sucesso na divulgação de suas letras na Palestina. Esses grupos se caracterizam por se apoiarem na sua identidade palestina, a luta de todo um povo e por darem visibilidade às brutalidades e violência determinadas por Israel.

As mulheres também têm se revelado musicalmente como Rim Banna, uma mulher nascida em Nazaré que se tornou uma compositora de renome internacional. A sua música é formada pela combinação do folclore palestino com letras denunciam a ocupação. 

O cantor Bashar Murad compõe suas músicas em árabe padrão e inglês. Isso faz com que as músicas tenham um vasto público que apreciam suas letras sobre questões de desigualdade de gênero e opressão do povo palestiniano.

A música tem tido um papel importante para a resistência palestina. Os artistas populares cantam em alto e bom som a vida e a luta do seu povo. A sua arte é um importante alento para, com seus sons e letras, fortalecer a luta palestina através dos tempos.

Cidade de Gaza – Obra dos sionistas israelenses a mando do imperialismo

Teatro

O teatro profissional surgiu na Palestina em 1977, com a criação da companhia Al-Hakawati. Em 1984, a trupe inaugurou sua sede, localizada em um antigo prédio em Jerusalém Oriental, e fundou o Teatro Nacional Palestino, um centro cultural e artístico em atividade desde então, também conhecido como Teatro Al-Hakawati. 

Houve diversas outras companhias em atividade na Palestina, e as produções teatrais de muitas delas têm ênfase especial no aspecto pedagógico ─ seja na realização de peças que circulam entre as escolas locais (com o financiamento, em grande parte, de organizações estrangeiras), seja na oferta de oficinas nas próprias instituições escolares ou para o público infantil de comunidades mais carentes, como as dos campos de refugiados. Realizam também temporadas de peças para o público jovem e adulto, com montagens ora mais críticas, tocando em temas internos da sociedade palestina, ora mais cômicas, com bastante aceitação. A metodologia do Teatro do Oprimido, desenvolvida pelo diretor e dramaturgo brasileiro Augusto Boal (1931-2009), estava presente nos processos cênicos e nos cursos de vários coletivos teatrais palestinos.

Em setembro passado a companhia palestina Ayyam al Masrah apresentou em Toscana a peça teatral “A história está doente”. Seu diretor artístico, Mohammed al Hessi, em entrevista ao jornal italiano Il manifesto afirmou que “de 1948 até hoje, o amor desapareceu, a vida desapareceu. E vimos o futuro nos olhos dos jovens, um futuro já destruído. Compreendemos que a situação política está fixa na vida das pessoas, que cada um de nós foi feito em pedaços. Vimos como cada acontecimento, uma intifada, as ofensivas, o cerco, teve um efeito cada vez pior na vida social. Até as histórias de amor desapareceram, nas dificuldades do dia a dia, na procura de emprego, na vida familiar. 

Indagado sobre como foi a reação do público em Gaza , o diretor afirmou que “as pessoas adoram esse espetáculo porque gera um grande debate no público e entre os atores. Após a apresentação todos fazem perguntas, como se buscassem uma solução para o problema de todos. Tínhamos que fazer 20 apresentações, fizemos 40. E no final de cada uma nascia um longo debate, as pessoas queriam falar sobre isso. 

O diretor conta a história da companhia. Ayyam al Masrah: “Nasceu em 1995 em Gaza, depois chegou também à Cisjordânia. Temos programas juvenis e clubes de teatro para crianças a partir dos 12 anos, aprendem a trabalhar em conjunto, a utilizar as redes sociais, a fazer filmes com o celular, a pôr as ideias em prática e a dar voz a si próprios. Nasceu para preencher um vazio, as pessoas precisam de um espaço para conversar, para discutir. Os espetáculos e oficinas nasceram das suas histórias, que depois partilhamos com o público”. 

Literatura

A literatura palestina tem uma rica tradição e é identificada por sua grande amplitude e riqueza cultural. Obras palestinas, no âmbito da literatura árabe, tem muitos séculos de existência. A literatura atual palestina tem fortes vínculos com os eventos históricos que objetivam a limpeza étnica de seu povo e à ocupação colonial israelense. Isso fica evidente quando vemos como a Nakba, como é chamada a catástrofe palestina, e suas consequências são a principal fonte de inspiração de inúmeras obras. Como realizações de um povo que luta e resiste à opressão sionista, a literatura palestina é principalmente uma coletânea de relatos históricos, em torno do grande sofrimento e da ânsia coletiva pela libertação.

A literatura palestina não se resume às dores, mas reflete a luta diária por autodeterminação. Em sua ampla variedade, as obras relembram histórias de uma Palestina que não desiste de resistir até que seu povo alcance a liberdade, sem postos de controle, êxodos e a opressão sionista. A imersão na literatura palestina é uma vivência única, porque os autores mostram com grande criatividade artística a “sumud” (resiliência) de um povo.

Em qualquer modalidade literária, uma obra palestina está sempre enfrentando os obstáculos que existem para expressar a experiência vital de ser palestino. Um povo cuja história se assemelha à ficção mais dramática A literatura palestina é um desafio constante de representar uma realidade que parece ficção.

Muitos autores palestinos são também militantes políticos e sociais, o que faz a sua literatura ser tão envolvente. As obras denotam também a luta contra a ocupação israelense e outras formas de opressão. Os autores mais relevantes são: Fadwa Tuqan, Mahmud Darwich, Ghassan Kanafani, Emile Habibi, Suad Amiry e Jabra Ibrahim Jabra, que mostram grande diversidade de temas e abordagens. Ler e divulgar obras palestinas é uma forma de apreciar uma grande arte e também de apoiar seu povo na luta por libertação. 

Joguinho

MUNA ALMASSDAR – Poetisa – Faixa de Gaza

quem apaga a guerra dentro de mim e me empresta um pouco de esquecimento ?

quem redefine minha noite e a dos rebeldes mais eminentes embaixo dos destroços?

quem devolve às calçadas nossos passos e devolve a ela seus nomes ?

alguém que se atreva a beliscar minha bochecha diante da falta de sono e da fúria do bombardeio?

alguém aqui corajoso o bastante para amaldiçoar a guerra escondida em nosso pão ?

alguma janela onde eu reúna as nuvens do fim do dia e impeça a noite de dar os primeiros passos?

é possível comprar uma língua e um coração tranquilo?

quem sabe assim eu possa falar da carnificina ou apagar talvez o fogo da guerra dentro de mim.

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