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Internacional

Estados Unidos prepara o apocalipse

Apesar das gigantescas manifestações de massa a favor da Palestina e do clamor internacional por um cessar-fogo, os Estados Unidos mantém sua inabalável aposta na sua aliança

Por Ricardo Rabelo

Apesar das gigantescas manifestações de massa a favor da Palestina e do clamor internacional por um cessar-fogo, os Estados Unidos mantém sua inabalável aposta na sua aliança com Israel no massacre de milhares de palestinos cujos números monstruosos aumentam sem cessar. Ao contrário de sua empreitada contra a Rússia em que foi capaz de hegemonizar uma onda de russofobia e de adesão a Ucrânia como um baluarte da civilização ocidental, a onda se inverteu. 

Há questionamentos ao massacre palestino em todo o EUA, abrangendo principalmente jovens e os apoiadores do partido democrata. Milhares de manifestantes tomam as ruas de Nova York e Washington quase todos os dias, com grupos de judeus ocupando locais públicos e gritando ”não em meu nome”. A resposta das autoridades é a repressão, sejam as tradicionais tropas de policiais nas ruas, com prisões de grandes coletivos de manifestantes, seja a insidiosa perseguição nas universidades, das empresas e nas redes sociais. Demissões por que se defendeu a Palestina ou o Hamas são frequentes . De repente descobre-se que o YouTube, a Meta(Instagram, Facebook e WhatsApp) e Google são cúmplices dos cruéis assassinatos de palestinos e tem as mãos sujas de sangue. É frequente o YouTube desmonetizar contas, o Instagram cancelar e colocar avisos e advertências contra” conteúdos impróprios”. A crise do regime do imperialismo “democrático” se aprofunda, pois fica claro que não há qualquer liberdade de expressão, de organização ou mesmo partidária nos Estados Unidos. 

Está marcada para o dia 4 de novembro uma marcha nacional em Washington em solidariedade à Palestina. Originalmente chamada por 9 organizações políticas, a convocatória já conta com o apoio de pelo menos outros 120 grupos. A expectativa é de que centenas de milhares de pessoas, se não mais, se reúnam na Freedom Plaza, a poucos metros da Casa Branca, pedindo palestina livre. Faz lembrar as grandes mobilizações contra a Guerra do Vietnã, na década de 70 do século XX. 

Por que os EUA apoiam Israel? 

A implantação do Estado de Israel foi uma operação nitidamente imperialista, em que a eliminação a população palestina foi similar à que foi feita pelos colonizadores estadunidenses que eliminaram de forma violenta e planejada os nativos daquela região da América do Norte. A violência dos colonos americanos se voltou inclusive contra outros colonos situados ao sul da região. Invadiram aquelas terras, mataram os colonos ali situados e lhes roubaram uma imensa parte do território do México. Isso sem falar da violência que os Estados Unidos sempre perpetraram contra os países da América Latina visando dominá-los e impedi-los de se desenvolver. Dessa forma, como afirmou Biden recentemente, os laços entre Israel e Estados Unidos são muito antigos e profundos. 

Todos os anos, em 15 de maio, os palestinos saem às ruas com uma das relíquias mais preciosas que muitas famílias guardam e conseguiram manter de geração em geração: as chaves das casas das quais foram expulsos há 75 anos, e para as quais nunca puderam retornar. Mais de 750 mil palestinos foram expulsos de suas casas pelas milicias sionistas, depois que Israel declarou sua independência do Mandato Britânico da Palestina, em 14 de maio de 1948, e durante a guerra árabe-israelense que começou no dia seguinte e levou 15 meses. É o que os árabes chamam de Nakba ou “catástrofe”, que é lembrada em manifestações onde as chaves têm papel preponderante. As expulsões não foram um evento aleatório da guerra, mas uma política sistemática. Você não pode transformar um país de maioria árabe em um estado judeu sem mudar a demografia. Os líderes sionistas entenderam desde a década de 1930 que não era possível criar uma maioria judaica simplesmente pela imigração, eles teriam que “transferir” os árabes. Após a Guerra dos Seis Dias em 1967, outras 300 mil pessoas foram expulsas, segundo dados da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA). 

Os bombardeios aéreos sobre a Palestina são uma prática frequente de Israel , sempre com um número de vítimas fatais civis palestinas maior que a dos israelenses, sempre maiores que 1500. A desculpa de sempre são os “atentados” do Hamas. Aconteceram bombardeios em julho/agosto de 2006, dezembro de 2008, julho/agosto de 2014, maio/junho de 2018, maio de 2021.

Apesar de nunca ter aceitado o Estado Palestino e manter a opressão sobre a população de Gaza e Cisjordânia, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, Israel é o país do mundo que mais recebeu, cumulativamente, recursos dos EUA. Entre 1946 e 2023 foram estimados US$ 260 bilhões (o equivalente a mais de R$1,3 trilhão), segundo um relatório do Congresso americano publicado em março deste ano. Mais da metade desse montante foi designado como auxílio militar. Mas o apoio dos EUA não se restringiu a atos financeiros bilaterais. Membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), os EUA usaram repetidamente seu poder de veto 80 vezes para barrar admoestações ou sanções a Israel pela ocupação, considerada ilegal pela ONU, de partes do território palestino. Mas Israel nunca obedeceu às resoluções da ONU, a não ser aquela que definiu a criação do Estado de Israel. Aparentemente, ao longo do tempo, o problema são os “ataques terroristas” que surgem de repente contra os israelenses, que são aparentemente “vítimas indefesas”. E o refrão sempre se repete: Israel “tem direito de se defender” 

Durante o governo do republicano de Donald Trump (2017-2021), os EUA se afastaram do compromisso histórico por dois Estados e transferiram sua embaixada para Jerusalém, reconhecida como capital do estado judeu. Seu sucessor, o democrata Joe Biden, não atuou em nenhum momento para possibilitar a reabertura da negociação. Ao contrário, Biden buscou fazer os “acordos de Abraão”, significando a “normalização” das relações entre países árabes e Israel, travada há décadas em parte justamente pela indefinição sobre criação de um Estado palestino. Conseguiram que o Marrocos, Bahrein e Emirados Árabes Unidos firmassem relações diplomáticas plenas com Israel. A operação do Hamas e a reação violenta de Israel praticamente sepultou a mais recente negociação de um acordo de reatamento de relações diplomáticas entre Arábia Saudita e Israel, que haviam sido finalizadas na Assembleia Geral da ONU em agosto. 

Israel cortou o abastecimento de água, energia elétrica, combustível e alimentação para a Faixa de Gaza, área densamente povoada por civis e submetida desde então a intenso bombardeio. Recentemente foram iniciadas as operações por terra, que contou com a participação de três divisões e várias brigadas das Forças Armadas dos EUA com pelo menos 5000 soldados. Israel está tentando dividir a Faixa de Gaza em duas, ou até três zonas. Os palestinos informaram que destruíram ou desativaram pelo menos 30 tanques israelenses e veículos blindados de transporte de pessoal em Beit Hanoun e Al-Brijah. Ismail Haniyeh, chefe do bureau político do Hamas, confirmou em seu blog que os batalhões al-Qasim conseguiram conter o ataque terrestre israelense em todas as frentes. Ao mesmo tempo, Ali Baraka, líder do Hamas no exterior, disse que a tentativa de ofensiva terrestre de Israel na Faixa de Gaza a partir de três direções fracassou e que os israelenses sofreram pesadas perdas.

O caminho do Apocalipse 

Como era totalmente esperado, e em linha com décadas da sua política externa, Washington colocou todo o seu peso na “posição ao lado de Israel” e no seu ataque genocida a Gaza. O impacto devastador da Operação Al-Aqsa Flood no Estado de ocupação apresentou uma oportunidade para os EUA e Israel erradicarem permanentemente a ameaça representada pela resistência palestiniana.

À medida que os ganhos políticos, militares e psicológicos sem precedentes da resistência começaram a ser sentidos, Washington imediatamente entrou na briga. Para começar, os EUA enviaram um porta-aviões para o Mediterrâneo Oriental – com outro a caminho – e mobilizaram navios de guerra britânicos e italianos nessas águas, numa demonstração de apoio total a Israel. 

O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, desempenha um papel fundamental na coordenação com Israel, participando abertamente nas reuniões do seu gabinete e liderando negociações diplomáticas em nome de Tel Aviv. Simultaneamente, o Secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, chegou a Israel para fornecer o seu apoio “inabalável”, que inclui o envio de 2.000 soldados das Forças Especiais dos EUA para o estado de ocupação. Como afirmou o proeminente jornalista israelita Yossi Yehoshua, “os Estados Unidos têm controle total sobre a batalha em Gaza”.

Não é sem razão que os americanos veem o Hezbollah como “o ator não estatal mais fortemente armado do mundo” . Eles também acreditam, muito corretamente, que a intervenção da resistência libanesa na guerra em Gaza irá alterar o seu curso e potencialmente impedir Israel de alcançar os seus objetivos. Analistas regionais e ocidentais estimam que o potencial bélico chegue a 130 mil mísseis – possivelmente mais – a maioria dos quais não teleguiados. Mas o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, confirmou numa declaração televisiva transmitida em Fevereiro de 2022 que o Hezbollah pode converter foguetes em mísseis de precisão e é totalmente capaz de produzir drones. Um ano antes, Nasrallah também confirmou que o seu partido contava agora com 100 mil homens – com todos os mísseis apontados para Israel.

Quando o Hezbollah não respondeu aos avisos enviados por Washington através de múltiplos canais libaneses, árabes e da ONU, os americanos decidiram ser mais explícitos: foram feitas ameaças ao grupo e aos seus aliados de que a entrada do Hezbollah na guerra levaria à destruição do Líbano. Ameaças semelhantes também foram feitas a muitas organizações de resistência do Iraque. O Presidente sírio, Bashar al-Assad, recebeu um aviso mais singular – de que se permitisse a abertura de uma frente síria contra Israel, sofreria pessoalmente as consequências. Para confirmar a mensagem, Israel bombardeou os aeroportos internacionais da Síria em Damasco e Aleppo. Durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, alertou o Irã sobre o risco de um possível ataque. De acordo com ele, os EUA não buscam a guerra, mas se o Irã realizar um ataque, as forças de segurança agirão de maneira rápida e decisiva.

Para mostrar que o bloco imperialista está unido, visitaram Israel para demonstrar seu apoio incondicional a Tel Aviv o grego Kyriakos Mitsotakis, a italiana Giorgia Meloni, o britânico Rishi Sunak, o alemão Olaf Scholz e o francês Emmanuel Macron. 

Do outro lado, tanto o Hamas quanto a Jihad Islâmica Palestina (PIJ) foram ao Líbano visitar pessoalmente o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasralla. Isso mostra uma unificação do chamado Eixo da Resistência. Some-se a isto a visita do Hamas a Moscou cuja delegação foi liderada por um membro do Politburo, Abu Marzouk. O vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Ali Bagheri, também viajou a Moscou e se reuniu com dois dos principais adjuntos do chanceler russo, Lavrov, Sergei Ryabkov e Mikhail Galuzin. 

Além de terem armamento estratégico equivalente ou superior ao dos EUA, o Eixo da Resistencia tem um trunfo imbatível: o estreito de Ormuz, por onde transita pelo menos 20% do petróleo mundial (quase 17 milhões de barris por dia) mais 18% do gás natural liquefeito (GNL), o que equivale a pelo menos 3,5 bilhões de pés cúbicos por dia. O primeiro-ministro iraquiano, Mohammed Shia al-Sudani, já alertou que o petróleo para os mercados ocidentais pode ser negado em relação com as ações de Israel em Gaza. O ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, já pediu um embargo total de petróleo e gás por parte dos países islâmicos contra nações que apoiam Israel.

O Apocalipse está se tornando, portanto, cada vez mais viável. Segundo informa Pepe Escobar, os EUA ameaçaram que “se o Hezbollah atacar Israel com algo além de alguns foguetes esparsos – e isso simplesmente não acontecerá – a Base Aérea Russa de Hmeimim, em Latakia (Síria), será “eliminada” como um “aviso” ao Irã.” Prossegue Ecobar:” Moscou nem sequer piscou antes de oferecer suas instalações Hmeimim à Síria – com autorização para voos de carga da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC), de acordo com algumas fontes de inteligência russas”.

Ainda de acordo com Escobar: ”os Mig-31K estão patrulhando o espaço aéreo neutro sobre o Mar Negro 24 horas por dia, 7 dias por semana, equipados com Khinzals hipersônicos, que levariam apenas seis minutos para visitar o Mediterrâneo. (…) ainda mais contundente foi uma declaração do primeiro-ministro Li Qiang – algo extraordinariamente contundente e raro na diplomacia chinesa: “A China continuará a apoiar firmemente o Irã na salvaguarda de sua soberania nacional, integridade territorial e dignidade nacional, e se oporá fortemente a quaisquer forças externas que interfiram nos assuntos internos do Irã.”

O cenário para um apocalipse mundial está montado e os atores estão agindo exatamente como numa tragédia grega: o coro já está anunciando o final dos tempos. Por outro lado, os planos do imperialismo para a faixa de Gaza levam provavelmente a um mesmo final terrível. Em um Livro Branco Divulgado mais de uma semana após o ataque surpresa liderado pelo Hamas a bases militares e kibutzes israelenses, o think tank Instituto de Segurança Nacional e Estratégia Sionista delineou “um plano para o reassentamento e reabilitação final no Egito de toda a população de Gaza”, com base na “oportunidade única e rara de evacuar toda a Faixa de Gaza”. O plano sinistro de Weitman imagina Israel comprando essas propriedades a um custo de US$ 5 a 8 bilhões de dólares, um preço impressionante que corresponde de 1% a 1,5% do PIB de Israel. Além disso, “fechar a questão de Gaza garantirá um fornecimento estável e crescente de gás israelense ao Egito e sua liquefação”, a partir das vastas reservas roubadas por Israel das costas de Gaza.

Esse plano de limpeza étnica pode muito bem compor o quadro de objetivos do imperialismo para a região. Mas agora eles enfrentam obstáculos muito maiores e muito mais fortes do que a combativa resistência palestina. De um lado, as massas de todo o mundo certamente repudiarão a extinção de Gaza pela expulsão de milhões de pessoas de seu território natal, repetindo 1948. De outro, há um Eixo da Resistência muito mais forte e decidido a impedir qualquer outro movimento das forças imperialistas no tabuleiro. Xeque Mate!

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