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Política

A crise no Governo israelense e ação do Eixo da resistência

Por Ricardo Rabelo

Qual será o final da brutal guerra de Israel contra a resistência palestina? A chamada “trégua” que na verdade é a suspensão do massacre de Gaza,  levantou questionamentos sobre principalmente a ação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o carrasco de Tel Aviv.  A  Operação Al-Aqsa, liderada pelo Hamas, e o bombardeio de Gaza acabou por obscurecer a fragilidade do poder de Netanyahu cuja cabeça permanece ameaçada pela espada de Dâmocles das  acusações de corrupção e consequente prisão por anos. Agora que o Governo foi obrigado a reconhecer o Hamas e paralisar a agressão para libertar reféns esse fim de Netanyahu seria não só possível como desejável.

A solução do  sionismo sem “Bibi”

               Existe uma crise política no regime israelense que não foi muito repercutida na mídia. Esta crise atinge   o próprio núcleo decisório estruturado para dirigir as operações militares de Israel. A principal divergência se dá entre  Netanyahu e as autoridades militares, devido à sua resistência autorizar a  trégua humanitária e a libertação de prisioneiros.

Para o primeiro-ministro  a única forma de afastar temporariamente a ameaça de prisão é prolongar a matança em Gaza. Dessa forma ele poderia ganhar tempo para poder fazer acordo de anistia  – com o beneplácito dos EUA – para evitar  a prisão.

Além disso, Netanyahu busca alguns objetivos que considera  realistas como o controle do gás de Gaza, a limpeza étnica  com a expulsão dos palestinos para o Sinai e a Jordânia e conseguir provocar um conflito direto entre os EUA e Irã  pois  sabe que é impossível eliminar o Hamas.

A cisão interna do Likud

Netanyahu conta com o apoio dos EUA  devido ao empenho de Joe Biden com relação as eleições presidenciais de 2024. Além disso   espera obter  o apoio da comunidade europeia em troca  de gás  roubado de Gaza. A passividade relativa da comunidade árabe também o estimula nesse caminho. Outra possibilidade é a retomada de uma velha ideia – o Canal Ben Gurion, do norte de Gaza a Eilat – poderia revigorar a economia regional  ao evitar o Canal de Suez, no Egito.

O que realmente preocupa Netanyahu é a profunda divisão interna de seu partido. O Likud culpa Netanyahu como a origem de crises políticas antigas, realçadas por cinco eleições sem resultados concretos e pela radicalização dos conflitos políticos em Israel.

                Se é que o primeiro ministro terá um legado, ele será sempre lembrado pelo massacre de Gaza pelos palestinos, pela opinião púbica mundial que não acreditou nas mentiras  inventadas por Israel e divulgadas caninamente pela imprensa ocidental. Mas também terá que se haver  com o que pensam seus correligionários a respeito.

O Likud em sua maioria julga que suas perspectivas de se manter no poder estão vinculadas à necessária saída de seu líder atual . Essa convicção ganhou força com a recente proposta do líder da oposição e líder do partido Yesh Atid, Yair Lapid.

O líder da oposição em Israel, Yair Lapid, fez uma declaração contundente exigindo a renúncia imediata do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu. Lapid instou a formação de um novo governo encabeçado por outro membro do Likud, seu partido político. Em uma entrevista à agência de notícias israelense N12, Lapid afirmou que Netanyahu “deve ir já” e convocou uma votação de desconfiança para derrubar o atual governo. Ele argumentou que em Israel “não podemos nos permitir conduzir uma campanha prolongada com um primeiro-ministro em quem não confiamos”.

Por outro lado, os aliados de extrema direita de Netanyahu admitem que o governo vigente  constitui a opção certa para se manter no poder e obter concessões oficiais . Recentemente eles obtiveram importantes recursos financeiros para seus partidos e instituições religiosas, conseguiram legalizar assentamentos judaicos em terras palestinas ocupadas e ocultar seus crimes violentos contra palestinos.

O apoio dos EUA é fundamental para Netanyahu mas pode ter implicações problemáticas como as ações contra bases militares dos EUA no Iraque e na Síria, resultado da matança de Israel em Gaza e de suas ações na sua fronteira libanesa.

A ação de Israel teve um efeito danoso também para  o acordo  entre  Israel e Arábia -Saudita pretendido pela  Casa Branca. Um aprofundamento da ação dos EUA na “guerra” de Israel atrairia certamente os seus adversários russos e chineses para o que acontece na Ásia Ocidental.

Os perigos para Biden

As grandes manifestações e  a repressão e censura desencadeada pelo massacre de Gaza já estão afetando o ânimo do público para votar em Biden nas próximas eleições presidenciais. A forte oposição da opinião pública às brutalidades de Israel em Gaza, certamente dificultarão a continuidade de  ajuda militar e financeira de Biden à  Israel. Os problemas de Biden  aumentam com o sentimento cada vez maior que Netanyahu representa um enorme  obstáculo a qualquer solução política para a questão Palestina .

Uma mudança para uma campanha para a solução de dois Estados – que Biden sabe ser inviável – poderá servir para a Casa Branca capitalizar a idéia politicamente e poder parecer mais simpático a uma solução mais equilibrada do conflito. Por isso,  Netanyahu parece disposto a estender  a agressão a Gaza até que Biden aceite a sua solução ou até que as eleições derrotem o atual governo.

Apesar de alguns governos acreditarem que o resultado final crie a possibilidade de um  acordo de paz permanente, o grande problema é que o exército israelense ainda não obteve nenhuma vitória importante contra o Hamas.  Nada indica que a situação caminhe para um acordo, apesar da trégua de troca de reféns obtida. Israel está  envolvido em uma série de obstáculos para uma possível vitória.

As ameaças do eixo de resistência da Ásia Ocidental só podem aumentar se Israel mantiver o massacre, que até agora não trouxe qualquer vitória. Israel já foi obrigada a revelar o número de feridos e mortos da IDF e o seu valor reduzido só revela mais uma mentira deslavada. A pressão chinesa e russa pode se tornar cada vez mais importante  e o peso dos problemas políticos do governo de Netanyahu insuportável.

A incrível ação de resistência naval do Iemen

A ação contra Israel do Iêmen começou logo no início  do massacre de Israel contra Gaza. Os ataques estão sendo feitos com drones e mísseis  de forma sistemática. Em 17 de novembro, Ansarallah sequestrou  o navio cargueiro israelense Galaxy Leader e seus 25 tripulantes internacionais na entrada do Mar Vermelho.

Na semana passada, a resistência iemenita atacou um navio de bandeira de Malta, o CMA CGM Symi, usando um drone suicida Shahed-136 produzido pelo Irã. O navio foi danificado, mas não houve vítimas. O navio pertence à Eastern Pacific Shipping, com sede em Singapura, que é controlada pelo empresário israelense Idan Ofer.

O resultado das ações desencadeou um efeito dominó de características econômicas, não militares. Por uma razão simples: os navios que circulam na região são quase todos navios de carga que fazem o transporte de mercadorias para Israel. Isto acarretou um aumento generalizado de preços dos fretes, pois o risco de perda ou interrupção das viagens representa um aumento brusco nos custos. Outro movimento  é o  redirecionamento dos  navios de carga que viajam entre Israel e a Ásia.

Uma empresa de pesquisa do mercado israelense de frete online registrou um aumento nos preços do frete entre os portos israelenses e a China após a eclosão da guerra.O efeito já atinge todas as mercadorias que chegam a Israel vindas da China e desembarcam no Porto de Ashdod, cujos preços começaram a subir nas últimas semanas.

Os navios ligados a Israel se afastaram do estreito de Bab Al-Mandeb, entre a Península Arábica e a África, para evitar ataques. Um navio entrou no Mar Vermelho pelo Canal de Suez a caminho da China, mas deu a volta após o ataque ao Galaxy Leader, reentrou no canal enatracou lá. Outro navio da mesma frota também voltou para o norte no Mar Vermelho. Pelo menos outros dois navios de transporte de carga israelenses foram forçados a mudar suas rotas desde os sequestros, de acordo com a seguradora Lloyd’s de Londres.

A tendência é que esses navios, forçados pela pressão do Iêmen, passem a navegar pela África, pois a rota pelo Mar Vermelho, pode aumentar  a duração das viagens em duas semanas e aumentar consideravelmente seu custo. Pode estar acontecendo o mesmo fenômeno com os navios que geralmente atravessam o Canal de Suez em seu caminho da Ásia para os EUA e Canadá.

Outra providência das companhias de navegação que servem a Israel é o reforço das equipes de segurança, o que também aumenta os custos. A empresa Zim chegou a anunciar que o aumento do prêmio de cada contêiner em mais de US$ 100. Pode-se presumir que esse passo já levou a preços mais altos para contêineres nas rotas marítimas internacionais que se dirigem aos portos israelenses.

Outro efeito inesperado da ação do Iêmen foi a reação do G7, isto mesmo, a poderosa associação do imperialismo internacional.Os ministros das Relações Exteriores do G7 apelaram ao governo do Iêmen, liderado por Ansarallah, em 29 de novembro, que cesse as ameaças à navegação internacional e liberte um navio apreendido no início deste mês.

“Enfatizando a importância da segurança marítima, pedimos a todas as partes que não ameacem ou interfiram no exercício legal dos direitos e liberdades de navegação por todas as embarcações”, diz um comunicado divulgado pelo presidente do G7 no Japão.

“Pedimos especialmente ao [Ansarallah] que cesse imediatamente os ataques contra civis e ameaças a rotas marítimas internacionais e embarcações comerciais e liberte o M/V Galaxy Leader e sua tripulação, ilegalmente apreendidos em águas internacionais em 19 de novembro”, acrescenta.

O Eixo de Resistência

Hoje, Estados árabes e atores não estatais alinhados com o Irã desempenham de longe o papel mais crucial no apoio à causa palestina, particularmente onde ela conta mais – a luta armada pela libertação nacional. Apesar dos desafios, eles continuam resistindo e contribuindo para o Eixo de Resistência mais amplo da região.

Desde 8 de outubro, a resistência no Líbano, liderada pelo Hezbollah, executou com sucesso uma política militar de lenta ebulição de desviar a atenção dos militares israelenses para longe de Gaza e em direção à fronteira norte, marcada por confrontos quase diários.

Ao atacar e eliminar estrategicamente as redes de comunicação e vigilância de Israel, o Hezbollah essencialmente forçou um terço das forças de ocupação a controlar a fronteira norte e despovoar assentamentos inteiros e bases militares em um raio de cinco quilômetros.

Hoje, a Síria, principal Estado árabe membro do Eixo de Resistência, não está fora da equação. Mísseis são disparados ocasionalmente contra as Colinas de Golã ocupadas por Israel, enquanto mísseis guiados antitanque (ATGMs), como o Kornet da Rússia, que são usados contra veículos blindados israelenses em Gaza e no sul do Líbano, são fornecidos por Damasco.A Síria também continua a ser uma rota essencial para a transferência, transporte e armazenamento de armas e mão de obra em todo o Eixo.

O Iraque, que foi essencialmente desmembrado e ocupado pelos EUA desde 2003, abriga várias facções de resistência apoiadas por Teerã, que se comprometeram a atacar os interesses dos EUA e bases militares no Iraque e na Síria.Os EUA anunciaram que foram atacados no Iraque 66 vezes desde outubro. Além disso, mísseis foram disparados desses grupos contra Israel, mas foram interceptados pela Jordânia.

A Argélia, no norte da África, um ponto fora da curva, vocaliza apoio aos palestinos e se opõe estritamente à normalização com Tel Aviv. É também um dos poucos Estados árabes a manter relações positivas com o Irã e a Síria. Enquanto grande produtor de gás, a mera ameaça de suspender as exportações de gás poderia exercer uma enorme pressão da UE sobre Israel. Embora a ação militar ainda não tenha sido tomada, o parlamento argelino votou unanimemente a favor de apoiar a Palestina por meios militares, se necessário. A solução crucial é que as nações árabes superem as divisões internas e forjem uma frente unificada para exercer coletivamente influência para deter o massacre em Gaza. Assim como os principais países árabes da Opep desenvolveram uma grande influência quando desafiaram Washington a reduzir a produção de petróleo, é provável que eles descubram que uma posição dura e coletiva contra Israel só confirmará sua força n

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