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Economia

A economia brasileira não é um carro alegre e contente

“A História é um carro alegre , que atropela, indiferente, todo aquele que a negue”

Por Ricardo Rabelo

Se perguntassem ao Tio Sam o que deveria ser inventado para prejudicar o crescimento da economia brasileira e assim conseguir fazer cair a popularidade do Lula, certamente ele responderia: não precisa! O próprio governo criou o arcabouço fiscal, que prevê que a arrecadação deve ter um crescimento absurdo para que o governo consiga fazer os investimentos necessários. Os dados do PIB para o 3º. Trimestre mostram que a economia já começou a entrar em crise antes da aplicação desta geringonça brasileira. Porque, assim como a geringonça portuguesa que serviu para a esquerda fazer a social-democracia crescer, aqui o resultado será um pouco pior, porque vai revigorar a extrema-direita.

Segundo o IBGE, o PIB brasileiro a preços de mercado do terceiro trimestre apresentou uma elevação de 0,1% com respeito ao segundo trimestre, contrariando as expectativas dos analistas do mercado financeiro que previam uma queda de 0,2% no terceiro trimestre na comparação com o trimestre anterior. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o PIB apresentou um crescimento de 2,0% e no acumulado em 12 meses um crescimento de 3,1% sem ajuste sazonal.

O governo canta vitória, mas esse resultado advém do grande gasto do governo e das empresas em 2022 e inclui a famosa PEC da Transição, que forneceu recursos para o governo continuar gastando o resto do ano e principalmente em programas sociais. Para os mais otimistas, o governo poderá aumentar o gasto 0,6% a.a. no próximo ano com relação a 2023, o que é muito pouco se compararmos com os outros governos Lula. Basta dizer que neste 3º.trimestre o gasto do governo aumentou 0,8% em relação ao 3º. Trimestre do ano passado. Na mesma base de comparação, a Despesa de Consumo das Famílias registrou crescimento de 3,3%, influenciado pelos auxílios governamentais às famílias e pela melhora no mercado de trabalho. E para que o Ministro Haddad inventou uma outra geringonça com a meta de deficit primário zero? Uma meta que o próprio Lula admitiu que é irrealizável se o governo quiser manter os investimentos do PAC. Não é possível compreender isso porque coloca a necessidade do governo fazer contingenciamentos de gastos e, se não fizer, poder ser submetido um processo de impeachment.

A queda do crescimento

Na verdade, quando comparamos o PIB do primeiro, segundo e terceiro trimestre de 2023 com o mesmo período do ano anterior, verifica-se uma clara queda do ritmo de crescimento ao longo de 2023 . Com efeito, no primeiro trimestre de 2023 a economia brasileira cresceu 4,22% com relação ao mesmo período de 2022. No segundo trimestre o ritmo de crescimento caiu para 3,46%, ao passo que no terceiro trimestre o crescimento foi de apenas 1,95%. Portanto, tivemos uma queda do ritmo de crescimento trimestral do PIB (na comparação com o mesmo período de 2022) de absurdos 53,79%. Se compararmos o 3º. Trimestre com igual período de 2022 vemos que a desindustrialização continua , com queda de 1,5% da produção da indústria de transformação por causa do recuo da produção nos setores mais nevrálgicos do setor: indústria automotiva, metalurgia, indústria química e máquinas e equipamentos. Outro problema grave é a queda brutal da Formação Bruta de Capital Fixo – que significa o investimento da economia – de 6,8% no terceiro trimestre de 2023, justificada pela queda na produção interna de bens de capital, construção e na importação de bens de capital. A lógica do arcabouço é contar com um aumento expressivo do investimento privado, que não acontece se não houver investimentos em infraestrutura que só o setor público faz.

O crescimento das exportações

O Brasil apresentou, no entanto, um crescimento recorde das exportações em 2023 até o 3º. Trimestre. Em todos os trimestres de 2023, as exportações tiveram um crescimento muito bom em relação ao mesmo período de 2022, ressaltando que no 2º e 3º trimestres, o crescimento foi em torno de 10%. Mas nossa pauta de exportação continua concentrada em produtos primários, tendo ficado apenas uma saudade dos tempos em que os produtos manufaturados representavam mais de 50% do total, o que aconteceu sempre os governos Lula 1 e 2. Naquela época o crescimento das exportações era repartido entre um crescimento de produtos primários (agrícolas e minerais) e um grande crescimento da produção da exportação de manufaturados. A mudança de comportamento ocorreu, como não podia deixar de ser, no governo Bolsonaro, acompanhando os péssimos resultados em termos de progresso em todos os setores do governo fascista. Desde pelo menos o Governo Dilma, o aumento importante das exportações está acompanhado pela queda do PIB da indústria de transformação, mas isto ocorria pela crise econômica mundial naquele período.

A composição da pauta de exportações brasileira passou a ter maior participação de produtos primários em 2019, quando eles representaram mais da metade das vendas brasileiras ao exterior. Esse foi o primeiro ano em quarenta anos que isso aconteceu, de acordo com o Ministério da Economia. A participação dos produtos básicos na pauta exportadora aumentou de 37,2% em 2016 para 44,3% em 2020, e de 51% entre janeiro e novembro de 2021. Esse aumento foi impulsionado principalmente pelo crescimento das exportações de soja, minério de ferro e petróleo, que somados representaram 56% das exportações brasileiras em 2020. Em 2022, os produtos básicos representaram 51% das exportações brasileiras, com destaque para soja, óleos brutos de petróleo, minério de ferro, óleos combustíveis de petróleo, carne bovina, etc. Os produtos manufaturados representaram 36,4% das exportações brasileiras, com destaque para aviões, automóveis de passageiros, óxidos e hidróxidos de alumínio, motores e geradores elétricos, e partes de motores e turbinas para aviação. Finalmente, os produtos semimanufaturados: representaram 12,6% das exportações brasileiras, com destaque para ferroligas, ferro fundido bruto e ferro spiegel, celulose, açúcar em bruto, e ouro em formas semimanufaturadas. Os principais destinos das exportações brasileiras em 2022 foram China (27,2%), União Europeia (15,2%), Estados Unidos (11,1%), Argentina (4,6%) e Japão (2,5%).

A ação do imperialismo

 Isto é resultado de uma ação do imperialismo que, pelo menos desde o final do século XX, não aceita que países do chamado sul global sejam competidores da produção dos chamados países desenvolvidos. Ainda que grande parte das exportações brasileiras de manufaturados são de empresas estrangeiras, para o imperialismo, principalmente do que o chamam “o seu quintal” não é admissível que ousem competir no mercado mundial de manufaturados. Por essa razão, através da operação Lava Jato, destruíram parte importante indústria brasileira, como as grandes empreiteiras de obras públicas, que se tornaram grandes empresas, inclusive no mercado mundial. Essa grande operação comandada pelo imperialismo norte-americano teve sua continuidade no Governo Temer e principalmente no Governo fascista de Bolsonaro. No governo Temer , em dezembro de 2017, ocorreu a última etapa da desnacionalização da Embraer, a única empresa brasileira responsável por exportação de bens manufaturados de alta tecnologia. Mesmo nos áureos tempos em que a exportação brasileira era composta por produtos manufaturados , a maioria era de bens de baixa ou média intensidade tecnológica. A Petrobras foi atingida diretamente pela Lava-jato e escapou por pouco da privatização total no governo Bolsonaro

A importância do Programa Nuclear e da Base de Alcântara

Outro setor importantíssimo para a economia brasileira na área de alta tecnologia é o Programa Nuclear. A Lava jato também atuou aí para atacar este Programa. O almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, que é considerado o pai do Programa Nuclear brasileiro, foi preso pala Lava jato acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. A condenação de 43 anos de prisão foi proferida em agosto de 2015 pelo juiz Sergio Moro, sendo que o almirante tinha na época 77 anos de idade. O almirante chefiou o programa secreto da Marinha que deu ao país o domínio de uma das mais cobiçadas tecnologias do mundo. A tecnologia magnética, usada pelo Brasil, substitui a mecânica utilizada pelos alemães, conhecida como técnica de Zippe. É uma técnica altamente sofisticada, sendo estratégico para o país manter esse segredo tecnológico. O Almirante Othon Luiz foi liberto por um habeas corpus concedido em outubro de 2017 pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Em 2022, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região revisou a condenação e substituiu a pena de prisão por restrições de direito.

Finalmente, a grande traição nacional foi representada pela entrega da Base de Alcântara aos EUA por parte do Governo brasileiro. O acordo com os EUA para o uso da base de Alcântara foi assinado em 2019, no governo Jair Bolsonaro, e promulgado em 2020, após a aprovação do Congresso Nacional com apoio decidido do PC do B e do governador do Maranhão, na época Flávio Dino. A Base era uma plataforma importantíssima para o Programa Espacial brasileiro, pois sua situação geográfica torna muito mais fácil o lançamento de satélites e naves espaciais. Caso continuasse em mão brasileiras, ela certamente favoreceria o desenvolvimento de uma indústria espacial, também de alta tecnologia.

Brasil Colônia novamente

O processo de redução da exportação de produtos manufaturados em relação aos primários não tem a haver apenas com o setor exportador. Mas esse processo, que é chamado de reprimarização, significa que voltamos a ser uma colônia, pois é sabido desde pelos estudos realizados pela CEPAL (Comissão Econômica da América Latina da ONU) nos anos 50 do século XX que o agro definitivamente não é pop: é algo atrasado, cheirando a museu e que caracteriza a maioria dos países do chamado sul global. O que caracteriza essa relação é que os produtos manufaturados sempre tendem a se valorizar em detrimento dos não manufaturados. O que significa que há uma espoliação dos países desenvolvidos em relação às economias dos países atrasados. Na América Latina, Brasil, México e Argentina são países que, apesar de tudo, ainda possuem indústrias.

Como alterar essa realidade

O Brasil para se tornar novamente um país soberano, capaz de proporcionar independência e bem-estar aos brasileiros e enfrentar a sanha dominadora e opressora do imperialismo é preciso que se reindustrialize, algo que o Governo Lula prometeu na campanha eleitoral, mas que até agora não deu passos significativos nesse sentido.

Para efetivamente dar passos no sentido da reindustrialização, o governo tem que tomar algumas medidas preliminares. O marco zero é refazer a política econômica atual, suas geringonças e reformas que não alteram em nada o rumo neoliberal da economia. Romper com o famoso tripé que rege a economia desde FHC, da política de metas de inflação, o câmbio flutuante e a meta fiscal. São medidas que impedem o desenvolvimento econômico do país e submetem a política monetária e fiscal aos interesses do setor financeiro Em primeiro lugar, revogar todas as reformas neoliberais feitas pelo governo Bolsonaro e o governo golpista de Temer. Em segundo lugar, reestatizar todas as empresas privatizadas desde o Governo Fernando Henrique e estatizar o sistema bancário sanguessuga da economia brasileira. E dessa forma dar passos para instaurar no Brasil um novo modelo econômico que não trilhe os perigosos caminhos do neoliberalismo.

Embora a economia brasileira não seja um carro alegre, a história é como canta a música Pablo Milanés na versão magnífica de Chico Buarque de Holanda: “a História é um carro alegre , que atropela, indiferente, todo aquele que a negue. É um trem riscando os trilhos Abrindo novos espaços Acenando muitos braços Balançando nossos filhos O que brilha com luz própria Ninguém o pode apagar Seu brilho pode alcançar A escuridão de outras costas Quem vai impedir que a chama Saia iluminando o cenário Saia incendiando o plenário Saia inventando outra trama”.

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