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Internacional

EUA: a distância entre a intenção e o gesto

Fuga de soldados dos EUA do Afeganistão

Por RICARDO RABELO

O imperialismo norte americano desencadeou nestes últimos anos uma serie de guerras que vem se mostrando incapaz de vencê-las. Guerras cuja intenção propalada  seria a defesa do mundo livre, onde impera a democracia, contra as ditaduras monstruosas e violentas. A questão é: alguém ainda acredita nisso?

O certo é que pelo menos uma parte importante dos trabalhadores estadunidenses já se deram conta que vivem sob um regime que favorece lucros gigantescos de um punhado de pessoas as custas da contração dos salários abaixo de um mínimo razoável. E não só isso: partiram para greves inteligentes que conseguiram derrotar gigantes econômicos como a Fiat, General Motors e  Ford. Aos poucos estes mesmos trabalhadores estão se conscientizando que sustentam com impostos um gigante de pés de barro que é incapaz de lutar e vencer uma guerra contra qualquer um dos inimigos que são muitas vezes criados pelos seus próprios governos. E o pior é que estes de gastos de trilhões de dólares anuais não são devidamente contabilizados e  demonstrados onde são gastos.

A imprensa estadunidense revela, com certo mal-estar, que o Pentágono, aquele prédio enorme com  aparência imponente que abriga o Departamento de Defesa dos EUA, não  conseguiu concluir em sua sexta auditoria anual consecutiva. Isto significa que os famosos trilhões de dólares foram gastos em não se sabe onde e como.

 Será que as Forças Armadas dos EUA também empregam seus dólares em próteses penianas e Viagra como suas congêneres brasileiras? Ninguém sabe, ninguém viu.  Das 29 subauditorias dos vários “serviços” do Departamento de Defesa, apenas sete foram aprovadas este ano, sem qualquer avanço em relação à do ano anterior. As auditorias começaram em 2017, sendo que o Pentágono nunca chegou a um resultado de conjunto em qualquer uma delas.

O orçamento de defesa dos EUA é fantasticamente grande: seus US$ 877 bilhões superam os US$ 849 bilhões gastos pela soma dos orçamentos das dez nações seguintes na lista dos grandes senhores da morte potencial ou realizada. Mesmo assim pouco se sabe em que foram empregados os US$ 3,8 trilhões em ativos e US$ 4 trilhões em passivos que o Pentágono acumulou em nome da “defesa” dos EUA e seus aliados.

Apesar deste descalabro contábil, o governo norte americano está empenhado em convencer o Congresso da necessidade “vital”, cinismos à parte,  em reservar US$ 886 bilhões para o orçamento de defesa de 2024. Certamente que ele vai conseguir pois o próprio Congresso está pronto para juntar mais US$ 80 bilhões a esse montante, mas tentando não deixar que os trabalhadores americanos saibam do que está ocorrendo. Mas dificilmente eles conseguem disfarçar o verdadeiro rombo que está sendo feito nas finanças do país  sem que se consiga ver um resultado de vitórias militares das anteriormente gloriosas forças armadas dos EUA.

Todos se lembram que, apesar de gastar cerca de US$ 2,3 trilhões em duas décadas de desastradas aventuras militares no Afeganistão, pôde se assistir à  vergonhosa retirada dos EUA após a fragorosa derrota em agosto de 2021. Igualmente, um gasto de US$ 758 bilhões na estrondosa invasão de 2003 e a discreta ocupação de uma década do Iraque foi desperdiçada  quando os EUA foram forçados a se retirar em 2011. O retorno  em 2014 só serviu para atestar o fracasso da famosa “luta contra o terror”, totalmente baseada em mentiras sobre uma fantasiosa existência de “armas de destruição em massa”  no país de Sadam Hussein.  No total, os EUA gastaram mais de US$ 1,8 trilhão em seu pesadelo de 20 anos no Iraque e na Síria.

Mais além das possíveis fraudes contábeis,  uma enorme fraude  sustenta a ideia de  um exército capaz de expandir o poder imperialista em todo o mundo para sustentar a chamada “ordem internacional baseada em regras”. Não sem causar destruição, mortes e barbárie em todo mundo as Forças Armadas dos EUA estão se demostrando incapazes de passar por uma auditoria real dos trabalhadores de todo o mundo.

Não foram capazes de derrotar a Al Qaeda, o Estado Islâmico e o Talibã. E não são capazes de derrotar potências regionais como a Coreia do Norte e o Irã, muito menos a China ou a Rússia. Até quando vão continuar a investir pesadamente na morte de milhões de pessoas em todo o mundo, sem que isso  contribua para alguma vitória, a não ser das megaempresas que nunca lucraram tanto com a venda de armas e equipamentos militares em geral.

EUA sustentam  guerras em todas as partes do mundo

O cheque mate do establishment ocidental, liderado pelos Estados Unidos, se aproxima de forma  trágica com as contradições do esforço de guerra ocidental para manter o “mundo baseado em regras”. O genocídio em Gaza não reduz o número de mortes diárias, mas ameaça reduzir o fornecimento de armas dos EUA a Taiwan,  e mais ainda para a Ucrânia.

A crônica da derrota anunciada na Ucrânia

Usando o Acordo de Minsk (2015) como mera estratégia para ganhar tempo, o chamado “Ocidente coletivo” liderado pelos EUA entrou em guerra contra a Rússia na Ucrânia em março de 2022.

 De acordo com uma análise do The Washington Post, os esforços do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante sua segunda visita a Washington em três meses, não conseguiram mudar a opinião dos congressistas republicanos, que se opõem a continuar financiando a escalada da guerra. O máximo que obteve foi a promessa de Biden de uma  ajuda militar de “apenas” US$ 200 milhões, observando que esta  poderia ser a última.

Dias antes, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse acreditar que a posição da Ucrânia na linha de frente  apresenta uma “situação crítica”, já que os membros da Aliança Atlântica não conseguiram atender à crescente demanda por munição.

Em entrevista à AP, Zelenskyy admitiu que seus combatentes não conseguiram obter ganhos significativos em sua contraofensiva fracassada. Ele também expressou temores de que os eventos na Faixa de Gaza possam comprometer o fluxo de ajuda militar para Kiev. Dessa forma, o conflito ucraniano seria “ofuscado” pelo genocídio em  Gaza orquestrado por Israel com o apoio das potências ocidentais.

Gaza: “Israel é o Ocidente”

 A segunda frente militar norte-americana está na Ásia Ocidental. O genocídio de Israel contra a população palestina é apoiado pelo Ocidente. Incrivelmente, em novembro passado, a revista militar oficial norte-americana Army University Press publicou um artigo escrito em nome do Departamento de Defesa dos EUA pedindo a limpeza étnica de Gaza e a destruição do Líbano. A destruição de Gaza , além do genocídio, provoca danos irreversíveis nos seus edifícios (15%), mas também nas suas terras aráveis (22%).

O artigo foi escrito por um intelectual orgânico do fascismo sionista, Omer Dostri, que propõe como “opção ideal” que Israel reocupe Gaza a longo prazo, limpe etnicamente milhões  de palestinos, aumente enormemente  o tamanho da zona de extermínio e estabeleça assentamentos dentro de Gaza.

O fato de um artigo de tal conteúdo e autoria ter sido publicado em nome do Departamento de Defesa e no principal órgão de comunicação  das Forças Armadas dos EUA mostra claramente a que ponto o imperialismo  norte-americano está se encharcando de sangue do povo palestino cujo genocídio está sendo perpetrado principalmente com bombas e mísseis fabricados nos EUA. Mostra, também , que o apartheid e a supremacia racial está criando raízes robustas no interior do aparelho de estado dos EUA.

As forças de ocupação israelenses  cruelmente atacaram edifícios residenciais, escolas, hospitais, ambulâncias, equipes médicas, equipes de resgate e primeiros socorros, jornalistas, funcionários das Nações Unidas, mesquitas, igrejas cristãs, infraestrutura e cortaram serviços de eletricidade, fornecimento de água  e comunicação. Cerca de 18% de toda a infraestrutura e 22% das terras aráveis na Faixa de Gaza foram danificadas como resultado da agressão de Israel contra o enclave palestino.

A desestabilização do mundo árabe e islâmico é uma necessidade do Ocidente e seu avanço envolve um genocídio sistemático da população árabe como o realizado em Gaza. O papel de supervisão de Washington, é demonstrado nas recorrentes visitas do secretário de Estado Antony Blinken, que participa intensamente das reuniões do gabinete de Netanyahu.

O anti-imperialismo na África

O bloco de países anticoloniais da África Ocidental (Mali, Burkina Faso, Níger, República Centro-Africana, Gabão) está unido contra a França imperialista  de Macron. No entanto, a mão de Washington não está longe dessa frente, manobrando para  pelo menos disputar influência com a Rússia  e ajudar a depor a influência da França.

Os três países do Sahel, Mali, Burkina Faso e Níger, assinaram um pacto em setembro para estabelecer uma arquitetura de defesa coletiva e assistência mútua em benefício de suas populações. Após o golpe de Estado no Níger contra o presidente Mohamed Bazoum por oficiais à frente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), o confronto com Paris se evidenciou. Os militares nacionalistas  alegaram que a decisão se deveu à “contínua deterioração da situação de segurança” e à “má gestão econômica e social”.

A subsecretária de Estado Victoria “Fuck Europe” Nuland visitou o  Níger tentando angariar algum apoio e diluir a crescente influência da Rússia. O ódio aos franceses está levando  à sua expulsão total do continente. A formação do pacto de defesa mútua pelos três países do Sahel destina-se precisamente a fazer face às ameaças da CEDEAO  (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) que tem uma historia de intervenções militares bem-sucedidas através da sua ala militar.

A disputa de Taiwan  e a reação     da China

A disputa global alimentada pelos EUA aproxima-se das fronteiras da China, como evidencia a contínua interferência no conflito entre o país asiático e a ilha de Taiwan, reconhecida como parte do seu território até por Washington, que tem mantido uma “ambiguidade estratégica” cada vez mais difícil de demonstrar.

Em agosto passado, Biden aprovou uma doação de US$ 80 milhões dos contribuintes americanos sob um programa chamado Financiamento Militar Estrangeiro (FMF, na sigla em inglês), que até agora era usado para enviar ajuda militar à Ucrânia, Afeganistão, Iraque, Israel, Egito, entre outros países. A novidade é que ela só havia sido concedida a países ou organizações reconhecidas pelas Nações Unidas, e Taiwan não o é.

Biden não apenas usou poderes discricionários para aprovar outros US$ 500 milhões em prontidão operacional para Taiwan, mas batalhões terrestres serão treinados nos EUA. Ele buscou aumentar o cerco à China fortalecendo a Sétima Frota do Japão, a maior dos EUA, com 40 mil soldados, 70 navios e submarinos e cerca de 300 aeronaves. Tal desdobramento, que busca a Otan na região do Pacífico, foi visto nas guerras da Coreia, Vietnã e Iraque (1991), e estaria focado em apoiar a Coreia do Sul contra Pyongyang e Taiwan contra a China em possíveis conflitos armados.

A  China tem a Marinha de seu Exército Popular de Libertação (ELP), a maior do mundo, com 340 navios contra os 280 navios dos EUA. Nos últimos anos, o ELP fez progressos na construção de dezenas de navios de guerra, incluindo os contratorpedeiros Tipo 052D e Tipo 055, o navio de assalto anfíbio Tipo 075 e o porta-aviões Fujian de 80.000 toneladas.

Taiwan desempenha um papel fundamental na cadeia de suprimentos e nos valores da indústria norte-americana, especificamente na corrida pelo mercado de semicondutores, fundamental para o desenvolvimento tecnológico. A TSMC, abreviação de Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, é a maior fabricante de chips do mundo, com uma participação de mercado global de 54%, enquanto a sua concorrente UMC de Taiwan compreende apenas 7%. A TSMC  é a lider no mundo na produção de  chips de 7 nanômetros. Nem por isso deixam de existir quem,   no establishment político dos EUA se  proponham a destruir suas instalações no caso de a China exercer o controle militar da ilha.

A intervenção militar do imperialismo chega à América Latina

O imperialismo americano continua em busca de petróleo e agora a bola da vez é a Venezuela. Apesar de ser uma região  disputada entre a Guiana e a Venezuela  a empresa petrolífera norte americana ExxonMobil explora petróleo e gás  há mais de uma década  nas águas territoriais do Essequibo.  

Pelo Acordo de Genebra de 1966 a Inglaterra acolheu a reivindicação venezuelana sobre a região criando uma comissão mista para buscar uma solução pacífica para o conflito territorial, que se arrasta há mais de um século.  O acordo também previa a possibilidade de recorrer ao secretário-geral da ONU em caso de impasse.

Entre 2015 e 2016, o governo venezuelano denunciou à comunidade internacional a chamada “operação pinça”, com a qual os EUA, por meio da Colômbia e da Guiana, provocariam um conflito militar contra a Venezuela que facilitaria sua posterior intervenção.

A Guiana recorreu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) em 2018, depois que os dois últimos secretários-gerais da ONU, Ban Ki-moon e António Guterres, encaminharam a disputa para aquele tribunal internacional. A Guiana pediu à CIJ que confirmasse a validade jurídica e efeito vinculativo da sentença arbitral de Paris de 1899, que estabeleceu a fronteira entre a colônia da Guiana inglesa e os Estados Unidos da Venezuela. A Venezuela, por sua vez, não reconheceu a jurisdição da CIJ e manteve a sua reivindicação sobre a região de Essequibo.

Em 2019, o falecido Grupo de Lima, que reunia os países à vinculados  à manobra  de “ regime change” do imperialismo estadunidense e europeu contra a Venezuela, divulgou um comunicado reconhecendo a suposta soberania da Guiana sobre o território Essequibo. Isso levou a notas de protesto do governo da República Bolivariana da Venezuela contra os Estados signatários do comunicado e levou a maioria dos signatários a se retratar.

       Em função disso os dois países se reuniram em Genebra com a mediação da ONU e selaram um acordo para resolver a disputa pelo diálogo.  O acordo prevê a retomada da comissão mista, a suspensão de qualquer ação unilateral e o respeito aos direitos humanos e ambientais na região.

        Como costuma agir nesses casos o “Comando Sul” dos EUA resolveu organizar  suas manobras militares conhecidas como “Tradewinds” no Mar do Caribe desde 2015, incluindo a Guiana. Isso se deu  exatamente na época em que  a ExxonMobil começou a explorar, sem esperar decisão da Corte Internacional,  campos de petróleo e gás na região .

        Não é à toa que quem apresentou a nova embaixadora dos EUA em Georgetown, Nicole Theriot, foi  a general Laura Richardson chefe do chamado Comando Sul dos EUA , fazendo assim uma dupla feminina bem ao gosto do identitarismo norte-americano.O exército dos EUA ainda serve para demonstrações de uma força muito contestada em outras regiões.

     Talvez por isso a  última operação “Tradewinds” contou com a participação de 21 países, incluindo três nações europeias (França, Holanda e Reino Unido). Eles desenvolveram  na Guiana várias atividades em terra, ar, mar e ciberespaço, distribuídas em diferentes locais do país, muitas delas ao longo do rio Essequibo, numa evidente afronta à Venezuela.

       Também neste ano, como sinal de que sua diplomacia está sempre ligada a conflitos, o secretário Blinken visitou a Guiana e discutiu questões de investimento em energia para suas empresas e segurança territorial.

Após o resultado esmagadoramente positivo do referendo consultivo de 3 de dezembro, o Estado venezuelano decidiu tomar as primeiras medidas para proteger a Guiana Essequiba. O presidente Nicolás Maduro ordenou que empresas estatais  explorassem petróleo e minerais na área, levando o presidente da Guiana, Irfaan Ali, a dizer que estava considerando o evento como hostil.

Mais uma guerra está sendo criada pelo imperialismo dos EUA. A Organização dos Estados Americanos (OEA), capacho dos EUA em todas suas intervenções e interferências, manifestou seu total apoio à Guiana na disputa. A  CIJ tem  decisões totalmente tendenciosas a favor do imperialismo e mostra que  ONU, nos seus organismos burocráticos não respeita  as tendências progressistas de sua Assembleia Geral . Em 2019, a CIJ reconheceu a sua competência para julgar o pedido da Guiana de confirmar a validade da sentença arbitral de 1899, que estabeleceu a fronteira entre a Guiana e a Venezuela, rejeitando a objeção preliminar da Venezuela.A CIJ divulgou uma decisão provisória em 1º de dezembro de 2023, na qual determinou que a Venezuela não pode tentar anexar a região por meio de um referendo, e que ambos os países devem se abster de quaisquer ações que agravem a disputa.

     É necessário que os trabalhadores brasileiros tomem consciência das ações do imperialismo em todo o mundo, e que não são teoria da conspiração quando apontamos seu papel determinante nos principais acontecimentos políticos e militares da nossa era.  Mais do que isso, devemos dar nossa solidariedade e apoio a todos que enfrentam diretamente as agressões imperialistas na Ucrânia, África Ocidental, Venezuela e especialmente aos mártires palestinos e sua resistência armada,  que sofrem um cruel e violento genocídio sob o patrocínio e ação direta  dos EUA. Esperamos a derrota definitiva  dessas forças militares que  arrancam dos trabalhadores norte americanos trilhões de dólares para submeter seus companheiros às atrocidades de guerras selvagens. Que prestem contas e sejam julgados por cortes realmente independentes e por toda a humanidade! Desejamos a todos um feliz 2024, com a vitória em todos os lugares, dos trabalhadores e forças anti imperialistas sobre o criminoso imperialismo norte americano.

Sabe, no fundo eu sou um sentimental. (…)  Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora.

Se trago as mãos distantes do meu peito

É que há distância entre intenção e gesto

E se o meu coração nas mãos estreito

Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta

Ostento a aguda empunhadora à proa

Mas meu peito se desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta

Mais que depressa a mão cega executa

Pois que senão o coração perdoa

Fado Tropical, de Chico Buarque e Ruy Guerra. 1972.

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